DIRETO AO PONTO

Mauro Osaki: MS e RS são os estados com os cenários mais preocupantes na produção agrícola

No Rio Grande do Sul também há preocupação quanto a recuperação do solo para novos investimentos, após as enchentes registradas entre abril e maio

A safra 2023/24 ainda é desafiadora para o setor produtivo brasileiro. E na avaliação do pesquisador no Cepea/ESALQ-USP, Mauro Osaki, os cenários mais preocupantes no momento estão nos estados de Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, diante, principalmente, da situação climática.

O ciclo atual é recheado de frustrações de produtividade, em decorrência ao clima, preços que não reagiram proporcionalmente ao que se esperava e ainda com alto custo, mesmo com a retração observada nos fertilizantes e defensivos.

“Um ano de extremos, de várias situações bastante atípicas dentro de um cenário que vínhamos trabalhando nos últimos anos”, frisa Mauro Osaki no programa Direto ao Ponto desta semana, direto de Maracaju (MS).

Conforme o especialista, a situação observada em Mato Grosso com a seca nesta temporada é preocupante, pois se não se vinha tendo registro de tal circunstância. Entretanto, os casos de Mato Grosso do Sul, que vem de sucessivas safras afetadas pelo clima, e do Rio Grande do Sul, atingido pelas enchentes entre abril e maio, são ainda mais preocupantes.

“As regiões que mais me preocupam hoje são as que tem registrado sucessivas reduções de rentabilidade, no caso do Mato Grosso do Sul. Nós tivemos interrupção climática. Então, você vê que traz a frustração e no Mato Grosso do Sul ela entrava neste cenário negativamente pelo histórico das últimas três safras”.

No que tange ao Rio Grande do Sul, Mauro Osaki explica que o estado também já vinha de duas La Niña e rentabilidade negativa.

“E agora com todo esse problema presente em relação à condição climática, também torna o estado bastante desafiador para a recuperação. Ali não é só uma frustração de safra. Mas, a recuperação do solo para fazer os novos investimentos para algumas regiões mais afetadas”.

Consumo mundial depende de dinheiro

Ao contrário do que se falava há cerca de dez anos sobre o aumento do consumo mundial de alimentos não ocorre como se estimava. Segundo Mauro Osaki, se fosse considerar o número da população as previsões talvez estariam corretas, contudo, “o problema é que o dinheiro não chega”.

“O que define a demanda é o nível da renda das pessoas. Então, se as pessoas possuem renda o suficiente para começar a se alimentar melhor, ela vai demandas esses alimentos. Se você não tem renda, só o número de pessoas não é suficiente para fazermos essa projeção [de consumo]”.

China adota modelo de gestão de cooperativas

A China nos últimos anos, principal consumidora das commodities brasileiras, especialmente de Mato Grosso, nos últimos anos vêm mudando o seu pensando de “dependência” de certos alimentos. O pesquisador da Cepea/ESALQ-USP explica que a gigante da Ásia vem criando os seus modelos de “gestão de autossuficiência”.

“O que mais tem mudado o comportamento do sistema produtivo da China são os modelos de fazendas. Eles começaram a colocar o arrendamento, cooperativas de produtores na verdade. E, essas cooperativas tem organizado melhor a produção deles. São produtores com maior capacidade de gerenciamento de produção. A China entendeu que para produzir commodity precisa ter escala”.

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