FÓRUM TÉCNICO MAIS MILHO

'Não há margem para erros na safra 2024/25', diz Mauro Ozaki

Crescimento da agroindustrialização em Mato Grosso do Sul, segundo especialistas, traz inúmeras oportunidades para o estado

Acesso ao crédito rural e planejamento financeiro são desafios enfrentados pelos produtores rurais a cada safra. Especialistas ressaltam ser de suma importância a realização do dever de casa, principalmente as gestões de custos e risco, diante de anos negativos, como visto nas últimas três safras, à exemplo de Mato Grosso do Sul com quebra de produtividade por conta do clima e queda de preços.

A renda do produtor e o acesso ao crédito e as oportunidades proporcionadas pelo etanol ao produtor rural foram os assuntos do Fórum Técnico Mais Milho, que integra o projeto Mais Milho, do Canal Rural Mato Grosso, realizado nesta sexta-feira (7) em Maracaju, em Mato Grosso do Sul.

O evento reuniu especialistas do setor da pesquisa, indústria de etanol e produtivo, por meio da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) e Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul).

De acordo com o pesquisador do Cepea/Esalq-USP, Mauro Ozaki, a safra 2023/24 é “bem diferente” e “difícil” em comparação a anterior, em especial para a soja, e que teoricamente não se deveria ocorrer queda de produtividade e preço ao mesmo tempo.

Ao mostrar dados das últimas temporadas, no caso de Mato Grosso do Sul, o pesquisador reforçou que é preciso ter claro que a produção agrícola é cíclica, com anos bons e ruim.

Mato Grosso do Sul nas últimas três safras vem sofrendo com as adversidades climáticas. Seca e geada foram vistas nos últimos anos. Na atual temporada, o milho safrinha, visto como esperança para a renda do produtor, viu as chuvas cortarem ainda em março.

“Todos esperávamos aumento de preço da soja por conta da queda de produção em Mato Grosso, mas não se concretizou, porque a Argentina compensou. A Argentina é quase um Mato Grosso. Um conseguiu compensar o outro, tendo assim oferta de produto. Não é novidade. O setor de agricultura é cíclico”, disse Mauro Ozaki.

O pesquisador salientou que no caso do milho o que “tem contribuído para uma rentabilidade” é a produtividade.

“Em Mato Grosso do Sul o que se tem visto nas últimas três safras já está ligando o sinal de alerta no setor financeiro. 2024/25 não há muita margem para erro. Isso não é só aqui, mas em Mato Grosso e outros estados. A produtividade está no limite para pagar custo. Estamos há quatro anos de margens estreitas, próximo de zero”.

Ainda segundo o especialista, no que tange aos preços baixos pagos ao produtor rural, a situação não é exclusiva do Brasil.

“O preço não está sendo atrativo para fazer loucuras. Não é só no Brasil. Os Estados Unidos também. Mas, lá eles têm subsídio e um governo que atrapalha menos. Essa nova faixa de rentabilidade vai separar o joio do trigo. Quem sabe administrar e de quem não sabe”.

Produtor precisa se reinventar

Diretor financeiro da Aprosoja-MS, Fábio Caminha, ressaltou que não há como ir contrário ao clima, que ele “está acima do produtor”.

Assim como Mauro Ozaki, o representante da Aprosoja-MS reforçou a necessidade do produtor sul-mato-grossense em fazer o seu dever de casa.

“O cenário mudou e o produtor tem que fazer o dever. Olhar o seu sistema produtivo e se reinventar. Os juros estão altos, o crédito escasso. A questão da comercialização, apesar da queda dos preços, se teve bons momentos para vender, inclusive antecipadamente. As informações existem e o produtor precisa trazer elas para a sua propriedade”.

Segundo o analista econômico do Sistema Famasul, Jean Américo, a preocupação em torno do crédito rural é grande. Ele comentou que até o momento no estado cerca de R$ 21 milhões foram acessados nesta safra, abaixo dos R$ 22 milhões do ciclo passado.

“O que mostra que houve queda nos investimentos dentro das propriedades”.

Agroindustrialização é vista como oportunidade

O crescimento da agroindustrialização com o etanol de milho em Mato Grosso do Sul é visto com bons olhos e com inúmeras oportunidades e, principalmente, uma menor dependência do mercado internacional.

Segundo o diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira, nos últimos dez anos, a safra brasileira de milho saltou de 77,98 milhões para 114 milhões de toneladas.

“O etanol é algo que está em constante expansão e que agrega valor. As usinas hoje estão de olho nas lavouras. Prestando a atenção na produção de milho e biomassa. Eu não imaginava ver usina de etanol de milho no Maranhão e Pará. O pessoal está enxergando muito as oportunidades, principalmente do DDG”, salientou

Atualmente estão em operação no país 22 biorrefinarias e nove com autorização de construção, conforme dados da União Nacional do Etanol de Milho (Unem). Destas, estão em operação hoje em Mato Grosso do Sul duas unidades, além de uma com autorização para construção.

Conforme o presidente-executivo da Biosul, Amaury Pekelman, em 2023 o etanol de milho representou 25% do volume total do biocombustível produzido no estado.

“Para a nossa região foi fundamental a chegada do etanol de milho. No início ficamos assustados, achamos que não iria ocorrer a implantação. Essa agroindustrialização de Mato Grosso do Sul com certeza vai abrir muitas oportunidades. E como Brasil esperamos que as políticas públicas nos favoreçam. Se a turma [política] não atrapalhar, já estará ajudando bastante”, destacou o diretor financeiro da Aprosoja-MS, Fábio Caminha.

Em 14 anos, comentou a consultora técnica do Sistema Famasul, Tamiris Azoia, quando se iniciou o projeto Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS), o estado possuía cerca de 1,8 milhão de hectares destinados para a produção de grãos e hoje em torno de 4,3 milhões de hectares.

“Vimos essa transformação ocorrer de forma sustentável. Sobretudo em cima das áreas de pastagem. Essa transformação do uso do solo não veio só com a soja e o milho, mas também com o eucalipto, para a celulose, e a cana de açúcar. Isso ajudou também a aumentar a produção de carne. Ficamos menos refém do mercado internacional. A vinda dessas usinas gera emprego, renda”.

Eduardo Paiva, diretor de Originação da Cerradinho Bio, disse que o setor do etanol de milho no Brasil tem uma oportunidade muito grande e que se está tendo, por parte do setor, vontade de se fazer acontecer.

“Tem alguns desafios ainda. Biomassa está se superando. Precisa abrir portas para o DDG, em especial o mercado internacional. Mas, o setor está unido para superar todos estes desafios”.

Além do milho, o sorgo também vem sendo utilizado para a produção de etanol em Mato Grosso do Sul. Recentemente a unidade da Inpasa no estado, de acordo com o gerente regional de originação da empresa, Rui Filho, recebeu a sua primeira carga do cereal.

“Teria que mudar a nomenclatura para etanol de cereais, porque não é só milho. Há lugares que fazem de beterraba, por exemplo. O sorgo é um cereal complementar para a produção do biocombustível”.

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