PATRULHEIRO AGRO

Seca pode reduzir produção e renda da soja no sul de MT

Agricultores da região de Rondonópolis e Itiquira temem dificuldades para honrar os compromissos

A seca continua castigando as lavouras de soja em Mato Grosso. No sul do estado, agricultores da região de Rondonópolis e Itiquira temem dificuldades para honrar os compromissos diante da baixa produtividade e rentabilidade da lavoura este ano.

Primeiro foram as cultivares precoces que sentiram os impactos da estiagem prolongada causada pelo El Niño. Áreas da oleaginosa foram castigadas do início do ciclo da cultura até a fase de enchimento dos grãos, comprometendo o desempenho das lavouras.

A esperança dos agricultores, como destacado no episódio desta quinta-feira (7) do Patrulheiro Agro, era a estabilidade das chuvas e o melhor desempenho das cultivares mais tardias, o que não aconteceu, frustrando as expectativas.

“Esse ano está desafiador. Estamos beirando 18 dias sem chuva. Soja adiantando ciclo. No estágio que está aqui, é uma soja que está pegando peso de grão. Então ela precisa de água e 18 dias sem chuva não dá peso. Não padroniza grãos. No mesmo pé a gente acha grão verde, grão seco e grão avariado”, comenta o gerente de produção João Victor Gomes Vieira.

O grupo familiar em Itiquira ao qual João Victor atua como gerente plantou 8,5 mil hectares de soja nesta safra. Segundo ele, pouco mais da metade da área já foi colhida. O profissional, salienta ao Canal Rural Mato Grosso, que a situação vista hoje é reflexo das questões climáticas da temporada.

“Vai dar uns 30% de perdas no total. Chove ali um pedaço, chove em outro pedaço e isso vai gerando mais estresse hídrico. Estamos plantando braquiária e precisando de umidade, o milho também. Está desafiador. Até agora a gente não tem uma chuva regular. Essa seca vem desde o começo. Tivemos perdas desde o plantio”, diz João Victor.

Produtividade da soja em baixa

Em Juscimeira, as lavouras do produtor Osvaldo Pasqualotto também sentem os efeitos do clima quente e da falta de chuvas neste ano-safra 2023/24. Ele revela que já está na reta final da colheita dos 12 mil hectares destinados para a soja.

“Esse foi um ano bem difícil. Começou com uma seca bem grande. Antecipamos um pouco o plantio. Dia 15, 16 de setembro estávamos plantando soja já. No mês de outubro praticamente não tivemos chuvas. Elas começaram a partir de novembro. As primeiras variedades, as primeiras sojas plantadas tivemos uma média bem baixa”, lembra Osvaldo.

De acordo com o produtor de Juscimeira, uma das propriedades é considerada um pouco diferenciada para a família, pois a mesma está em uma altitude 700 metros aproximadamente.

“Então, a gente teve um pouco mais de chuva em relação às outras fazendas. Inclusive, a gente investe bastante em adubação, em calcário em tratos químicos, tratos culturais, fungicida. A expectativa era uma média bem mais alta. Esse ano nós achamos que estamos diminuindo em torno de dez sacas por hectare em relação ao ano passado”, estima ao Canal Rural Mato Grosso.

Temperaturas que beiram os 46°C

Na região sul de Mato Grosso, conforme o delegado suplente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Igor Rampelotto Gatto, em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, as perspectivas apontam perdas expressivas entre 15% e 25%.

“Aqui além de ter diminuído o volume das chuvas, foi um ano muito quente com dias beirando 45°C, 46°C. Tudo isso castiga bem a produção. A planta sente igual outro ser vivo”.

O delegado suplente da Aprosoja-MT comenta ainda que na região sul houveram muitas notícias de replantio da soja, sobretudo por parte daqueles que plantaram cedo.

“Tem dentro das mesmas propriedades talhões com médias normais e alguns talhões, segundo relatos de alguns produtores, chegando a 20, 30 sacas de média. Mesmo quem conseguiu escapar do pior do El Niño, não vai chegar à colher igual ao ano passado. Acredito que vamos ter uma perda significativa na região sul, principalmente aqui na região de Itiquira e Rondonópolis, com perdas de volume expressiva eu imagino que cerca de 15%, 25%”.

Perdas na lavoura e na renda

Além das perdas de produtividade nas lavouras, outra preocupação com a oleaginosa vem tirando o sono do produtor mato-grossense da região sul, principalmente para quem decidiu aguardar o resultado final da safra para comercializar a produção: a desvalorização do grão.

Osvaldo Pasqualotto pontua que o preço do bushel vinha em uma média considerada boa, na casa dos US$ 11, US$ 12.

“O problema todo foi que os custos aumentaram muito. A gente pegava há três, quatro anos atrás um diesel a R$ 3,50 o litro. Hoje está quase R$ 7 o litro de diesel posto na fazenda. A tonelada do potássio quase que duplicou, fósforo, preço do frete também aumentaram bastante devido ao aumento do diesel. Isso que desequilibrou a balança do produtor”

O produtor pontua, ao Canal Rural Mato Grosso, que nas condições vividas hoje de alto custo de produção e baixo valor pago pelo grão, por exemplo, “produtores que pagam arrendamentos altos vão ter dificuldades. Financiamentos altos, também. A taxa Selic subiu bastante esse ano. Desde o ano passado o maquinário ficou bastante alto. Então eu acredito que esse ano vai ter muito agricultor com problema em Mato Grosso”.

+Confira todos os episódios da série Patrulheiro Agro


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