EM MATO GROSSO

Pesquisas mostram potencial de aumento de fertilidade e produtividade em solos arenosos

Adoção de estratégias em solos mais frágeis podem fazer a diferença em anos de déficit hídrico e altas temperaturas, apontam especialistas

Pesquisas recentes de fertilidade em solos arenosos em Mato Grosso mostram que é possível viabilizar a adoção de novas tecnologias focando no aumento da produtividade, rentabilidade e na segurança sanitária, permitindo assim o uso de diversas cultivares. As estratégias, segundo especialistas, podem fazer a diferença em anos de déficit hídrico e altas temperaturas.

Os estudos em solos arenosos foram realizados em Campo Novo do Parecis e envolveram protocolos de rotação de cultura, manejo de adubação, potássio, enxofre e fósforos.

De acordo com o pesquisador Leandro Zancanaro, muitas vezes os solos arenosos são deixados para último plano, sendo que eles são os que mais merecem uma atenção especial do produtor rural.

“Esse ano nós aprendemos que água, luz e temperatura fazem muita diferença. Esse ano tivemos muita luz, água no limite e temperatura abundante. Então, esse fator com restrição hídrica, com temperatura alta limitou a produtividade”.

Leandro Zancanaro salienta ainda que a estratégia de manejo que permitiu menos perdas foi a de estabilidade de produção.

“Esse também é um ano para dizer o seguinte: que tudo na vida tem um limite. Tem uns solos arenosos que tem um risco muito alto. Qual a aptidão deles? Um sistema muito intensivo ou menos intensivo? Então, temos que respeitar isso”.

Na safra 2023/24 a observação feita no campo é que aqueles que plantaram mais cedo, em setembro e início de outubro, materiais mais precoces de soja tiveram perdas “muito grande de produtividade”, enquanto os produtores que conseguiram aumentar o ciclo e semear cultivares médias e tardias já não tiveram perdas “muito significativas”.

O professor da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Alencar Junior Zanon, afirma que as cultivares foram muito importantes nesta safra de soja. “Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é a textura do solo”.

Conforme Alencar Junior Zanon, é a textura de solo na prática que armazena a água. Ele explica que um milímetro de chuva significa seis quilos de grãos de soja.

“Então, a diferença do solo arenoso e o argiloso, em um ano que choveu muito pouco como esse no início do ciclo, são de 10 sacas somente pela textura do solo. Não tem receita de bolo. Tem que conhecer a nossa realidade e adaptar as práticas de manejo de solo de acordo com a nossa lavoura. E, é isso que o produtor no final do dia quer. Colher mais com menor risco”.

Bom manejo traz boas produtividades

A pesquisa de fertilidade em solos arenosos foi realizada na área do Ctecno Parecis, conduzido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato grosso (Aprosoja-MT) desde 2016. São 88 hectares com textura arenosa entre 7% e 32%. Os dados foram apresentados nos dias 17 e 18 de janeiro durante Dia de Campo que reuniu agricultores, agrônomos, pesquisadores e universitários interessados nos resultados.

Para o agricultor Diego Francisco Bertuol pesquisas como a apresentada são de suma importância, pois há no estado, em especial na região norte, áreas de aberturas de transição de pastagem para lavoura.

“Esse trabalho de pesquisa buscando perfil de solo é muito importante. Na minha área nós temos talhões com 6% de argila, até 50%. Essa pesquisa que vemos aqui no Ctecno Parecis aplica bem isso. Nós vemos aqui que com um bom manejo na areia se consegue ter boas produtividades, principalmente nos parcelamentos de potássio nas coberturas de solo”.

Bruno Giacomet Gonçalves, presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis, frisa que o produtor rural não consegue em sua propriedade fazer experimentos como os realizados no Ctecno Parecis. “Com certeza a gente ter uma estrutura desse tamanho, com variedades, tecnologias, uma linguagem simples e resultados confiáveis na nossa cidade é motivo de muito orgulho para nós”.

Segundo o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, as pesquisas realizadas no local são demandas dos próprios produtores.

“O Ctecno Parecis hoje é o maior centro de pesquisa independente do Brasil, onde as nossas pesquisas são demandadas pelos produtores. O financiamento das pesquisas é 100% com recursos dos produtores, trazendo ainda mais independência. Ela tem evoluído ano após ano, e em um ano como esse, que está seco, o contraste ainda é maior em cima de todos esses ensaios e o objetivo principal é sempre trazer a otimização do uso da terra pelo produtor e também a sustentabilidade econômica”.

Com uma área cultivada de quase mil hectares de soja no município de Comodoro, cerca de 240 quilômetros de Campo Novo do Parecis, o produtor João Ferreira da Silva, estima perdas em torno de 20% a 25% sobre solos de texturas mais frágeis.

“Onde vemos áreas que estão com maior estabilidade de produção, as áreas que tem braquiária estão produzindo melhor em relação aos outros tratamentos. Isso é um indicativo muito importante para nós que estamos produzindo”.

Mosca branca na soja chama a atenção

Embora o objetivo do Dia de Campo tenha sido apresentar os resultados de manejo em solos arenosos e fertilidade, a presença de mosca branca na soja chamou a atenção dos participantes. A praga é considerada um grande desafio a ser superador nesta safra diante do atual cenário enfrentado no campo.

“Aqui é uma área que está sendo feito o controle, monitorada. Mas, conforme a gente caminha para o final da colheita, essas últimas lavouras que foram plantadas esse ano devido a janela ter alongado, elas vão sofrer uma forte pressão de mosca branca. Então, além do produtor gastar bastante com o controle da mosca branca, porque o custo é alto, sem dúvida nenhuma vai ter prejuízo, pois pode afetar muito a produtividade da soja plantada mais tarde”, diz o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber.


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