A utilização de bioinsumos para o controle de pragas e doenças nas lavouras, em especial de soja, cresce pelo menos 90% ao ano nos últimos três anos e deve duplicar até 2030 no Brasil na avaliação de especialistas. Um dos fatores para isso é a demanda mundial por uma agricultura sustentável.
Flávio Medeiros, professor do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), comenta que, além do interesse do produtor por insumos de origem biológica, o aumento de empresas com produtos de qualidade, volumes necessários para atender a essa demanda crescente, auxiliaram para o incremento da adoção dos bioinsumos nos últimos anos.
“Os biológicos são uma opção que somada à várias outras medidas – como escolha de cultivares, época de semeaduras, aplicação de fungicida, rotação de culturas – entra como mais uma ferramenta para agregar em relação a manejo de doenças, em relação ao aumento de produtividade das lavouras e produção mais sustentável”, apontou o pesquisador durante o Open Sky Soja realizado em três principais regiões produtora de Mato Grosso, pela Proteplan, empresa mato-grossense de pesquisa agrícola.
Uso correto de biológicos traz ganho à produtividade
Resultados de pesquisas agrícolas mostram que o uso correto de biológicos na lavoura podem proporcionar ganho de no mínimo uma saca por hectare de soja. Segundo Medeiros, os bioinsumos garantem mais flores à planta de soja, o que poderá gerar mais vagens, e com isso as plantas tendem a aumentar o potencial produtivo.
Para garantir a eficiência do uso dessa tecnologia e do bom crescimento da planta da soja é necessário que produtor e equipe conheçam as particularidades da sua lavoura e de sua região. Só depois de informações nas mãos é que se decide qual, como e onde os organismos podem ser introduzidos na cultura.
O manejo integrado e a adoção de ações multidisciplinares são apontados pelo pesquisador como essenciais para a garantia da performance produtiva da planta de soja. Além de saber o momento certo de introduzir os microrganismos, também é importante criar o nicho favorável. Ou seja, o que é preciso fazer para que esse microrganismo tenha sua melhor performance.
A presença de palhada, a rotação de culturas, a aplicação bem no início do ciclo, com umidade do solo são ferramentas apontadas por Medeiros como itens fundamentais para conciliar com a aplicação do produto biológico para maximizar a eficiência do produto em relação ao alvo que se deseja aplicar e com isso ter uma menor redução de produtividade decorrente das ocorrências de doenças radiculares.
“Quando se aplica o microrganismo, ele tem ainda um efeito fisiológico na planta. Vimos resultados com relação a maior atividade antioxidante no teço inferior, por exemplo, de folhas. Isso vai reduzir os sintomas de doenças, mas também vai aumentar a retenção foliar, e com isso temos maior fotossíntese, maior enchimento de grãos e maior produtividade. Então há várias métricas que o controle biológico encaixou como uma ferramenta importante para trabalhar o manejo integrado”, explicou.
Bioinsumos devem ser integrados ao manejo integrado
Os bioinsumos disponíveis no mercado devem ser, segundo o pesquisador Flávio Medeiros, empregados para o manejo de doenças de plantas dentro de uma proposta de manejo integrado. Para as doenças radiculares tem produtos que são voltados exclusivamente para controle de nematoides, tem produtos específicos para controle de doenças fúngicas, e tem produtos que manejam os dois problemas.
“Em relação a parte área, temos duas abordagens: uma é para patógenos necrotróficos, pensando na colonização dos restos culturais para evitar a esporulação do fungo e a outra a proteção do tecido foliar combinando com mecanismos diferentes dos fungicidas, ou seja, tendo um maior espectro de ação e através de mecanismo de ação diferentes para ter redução na severidade da doença”, disse o especialista.
Na palestra realizada em Campo Verde (localizado na região sudeste de Mato Grosso), o professor explicou que os bioinsumos são tecnologias baseadas em bactérias e em fungos. Ambos agem no controle de pragas e insetos transmissores de doenças a partir da introdução de seus inimigos naturais no sistema.
“Mas eles não devem ser usados isoladamente. São mais uma ferramenta que podem ser otimizadas às práticas de manejo integrado, que inclui o uso em conjunto com os produtos químicos. Quanto mais diversificado o sistema de produção, mais diversificado é o conjunto de microrganismos”, destacou.
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