Mato Grosso

Mato Grosso: excesso de chuvas aumenta desgaste logístico em rodovias estaduais

Situação nas MT-235 e MT-240 causa incertezas e apreensão em agricultores quanto ao escoamento da safra de soja na região

O excesso de chuvas em janeiro aumentou o desgaste logístico nas MT-235 e MT-240. As duas rodovias estaduais são consideradas importantes para o escoamento da produção mato-grossense e a pouca manutenção causa incertezas e apreensão nos agricultores da região, além de prejuízos ao setor do transporte.

O velho problema da falta de logística para escoar a produção entra em cena a cada avanço da colheita da soja no estado. Em Nova Mutum a parte ainda não pavimentada da MT-235 é um desafio que virou rotina para produtores e transportadores.

+Chuvas intensas em Mato Grosso levam prefeitos a decretar situação de emergência

“Estamos aqui há 40 anos. É uma estrada sem condições de trafegar. Isso eu acho que não é mais justo e, hoje aqui na região já está difícil até material para conservação de estrada sem pavimentação. Nossa necessidade é extremamente urgente, para ver se sai logo dessa poeira que é um risco de vida na seca e um risco de vida na chuva”, diz o agricultor Gilberto Vendruscolo.

A precariedade da logística, de acordo com quem produz, traz dois reflexos significativos para o bolso: a desvalorização da soja e o aumento de custos com frete na região.

O produtor Cristiano Costa Beber comenta que o valor do transporte por saca se falava até certo tempo em R$ 0,60 e hoje em R$ 1 em decorrência a situação da rodovia.

“Começam a querer aumentar o frete por causa da qualidade da estrada e isso vem cair em cima de nós produtor. Em termos de desvalorização, hoje vai perder R$ 0,30, R$ 0,40 por saco por causa dessa logística. Só queremos condições para trabalhar, para entrar o produto e para sair”, pontua Beber.

atoleiros mato grosso foto pedro silvestre canal rural mato grosso 1
Situação nas MT-235 e MT-240 preocupam e causam prejuízos para agricultores e transportadores. Foto: Pero Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Manutenção constante de veículos pesa no bolso

Quem depende da estrada para se locomover também sente no bolso o prejuízo causado pelas condições da via, como é o caso do agrônomo Cledson Guimarães Dias Pereira.

“Mensal passa dos R$ 2 mil, R$ 2,5 mil. Isso porque são carros potentes. Caminhonetes e pick-ups. Senão teria que fazer suspensão a cada três, quatro, cinco meses. Aí ficaria inviável. É uma cadeia de perdas. Clientes que não tem armazém e precisa tirar a safra primeiro para achar caminhão, depois tem problema que pode perder tua safra com caminhão capotando, caindo em valetas, buracos. Fora as empresas que vem trazer seu produto e muitas vezes fica atolada”, frisa o agrônomo.

Melhorias na MT-240 avançam pouco

Problemas semelhantes da MT-235 são vistos em quase 95 quilômetros não pavimentados da MT-240, em Nobres. O motivo de críticas, segundo o setor produtivo, é que as obras de melhorias na estrada não avançam como o esperado e o excesso de chuvas castigaram boa parte da estrutura em alguns trechos.

“As lavouras aumentaram e a safra deve se concentrar mais, porque a chuva chegou cedo, ou seja, precisa agilidade para retirar essa safra, precisa rapidez e a estrada não vai colaborar com isso, do jeito que está o andamento da carruagem aí não vai não”, afirma o agricultor Dejair Roberto Liu.

+Estrada precária em MT desvaloriza soja em até R$ 0,40/saca e encarece frete

Atoleiros Mato Grosso foto Pedro Silvestre Canal Rural Mato Grosso
Produtores relatam haver dificuldades para conseguir caminhões para escoar a produção diante da situação das rodovias estaduais. Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Produtor em Nobres, Wagner Scharf, comenta que um contrato foi firmado no dia 4 de novembro do ano passado para manutenção da MT-240.

“Então, teoricamente está pegando um período chuvoso agora, para mexer com estrada nessa época é complicado. Porém, de lá para cá se você rodar a nossa MT, não fez nem 10% do que precisa ser feito e a estrada está baixa, está muito mais baixa do que as lavouras. Enquanto tiver água na estrada, não existe estrada”.

O caminhoneiro Hélio Ferreira narra que para fazer um trecho de 20 quilômetros chega a levar mais de uma hora.

“As estradas aqui devido às chuvas estão bastantes precárias. O custo para manter um veículo está muito alto, em pneus em molas e devido esta estrada esburacada do jeito que está aí, aqui se tiver um caminhão atolado pelo caminho não passa dois. Não tem como passar. Eu estou gastando em média uma hora e meia mais ou menos para poder fazer vinte quilômetros”, revela Ferreira.

atoleiros mato grosso foto pedro silvestre canal rural mato grosso 3
Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Socorro vem de quem está perto das estradas

Quem possui propriedade às margens da estrada acaba sendo responsável pelos socorros em épocas chuvosas. Situação que causa transtornos da porteira para dentro.

“A gente tem que puxar todo mundo que chega aqui, porque todo mundo atola aqui. A gente tem que usar o nosso trator, o nosso maquinário, parar a nossa lavoura, parar a colheita, parar tudo que está fazendo na fazenda de serviço para vir puxar caminhão, porque está todo mundo atolado esperando a gente e todo mundo vai puxar na fazenda”, relata a produtora Cláudia Bortolo.

+Falta de logística ameaça escoamento da safra de soja em Nobres

Conforme o agricultor André Zarpelon, não bastassem as propriedades prestarem socorro aos veículos atolados, as mesmas ainda sofrem com a falta de caminhões para escoar a produção, uma vez que a situação das rodovias não pavimentadas afasta os caminhoneiros.

“Já teve turma do ano passado que não quis vir pela estrada. Vai iniciar a colheita e a estrada está parada as obras. Água correndo e risco de atoleiro vai ser imenso quando começar a colher. Eu acho que nós como arrendatários não sabemos até onde vamos suportar. E, esse ano não pode perder nada, porque está bem ajustada a receita e despesa”.

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Fethab precisa de agilidade nos investimentos, diz Aprosoja-MT

De acordo com o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, é preciso que haja mais investimentos Fundo de Transporte e Habitação (Fethab) e celeridade do mesmo.

“Os produtores a mais de 20 anos recolhem o Fethab. Depois veio o Fethab 2, o Fethab do Milho. A gente precisa que haja mais investimento. Que esse fundo realmente seja usado para manutenção de estrada e também construção de asfalto e infraestrutura que esse estado merece e também para propiciar para que novas áreas sejam convertidas da pecuária para agricultura”.

Vale ressaltar que a Lei Nº11.975, de 21 de dezembro de 2022, prorrogou o prazo de vigência da Contribuição Adicional ao Fethab para 31 de dezembro de 2026.

+Fethab: saiba qual valor será cobrado sobre cada produto neste semestre

Outro lado

Em relação a MT-235, a Prefeitura de Nova Mutum é a responsável pela manutenção do trecho e recebe ajuda de produtores rurais da região. A gestão do município solicitou ao governo do estado de Mato Grosso uma parceria para pavimentar a estrada e aguarda resposta.

Sobre a MT-240, no município de Nobres, a reportagem do Canal Rural Mato Grosso entrou em contato com a empresa responsável e com o responsável pelo consórcio e não obteve resposta até a publicação desta matéria.

 

Clique aqui, entre no grupo de WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real