Uma pequena propriedade de 15 hectares viu em pouco tempo a sua produção de leite triplicar e com um detalhe: menos animais em lactação. Qual o segredo? Conhecimento e informação correta, na hora certa e a aplicação na prática das orientações repassadas por técnicos especialistas de campo.
Localizado em Poconé, município considerado a porta de entrada do Pantanal mato-grossense, o Sítio Duas Irmãs tem sua história iniciada em 2005, quando o produtor Cícero Francisco de Souza começa a realizar o sonho de voltar para o campo e ser produtor rural.
História essa que faz parte do primeiro episódio do programa Senar Transforma – Semear Conhecimento, Colher Transformação, que estreia hoje (12) no Canal Rural.
Cícero conta que por muitos anos, após mudar de Figueirópolis D’Oeste para Várzea Grande em 1994, trabalhou em transportadora, entregador de loja de eletrodomésticos e motorista de ônibus, até que em 2005 surgiu a oportunidade de adquirir o sítio em Poconé e finalmente realizar o seu sonho e da família.
“[Quando via o trânsito da cidade] a vontade era louca de voltar à atividade que eu tinha antes”, frisa o produtor ao Senar Transforma.
O Sítio Duas Irmãs é um dos 280 que formam o Assentamento Carrijo. A placa na entrada da propriedade vista por quem chega é um anúncio de que o local é um dos assistidos pelo programa Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso.
Uma vez por mês Cícero recebe na propriedade a visita de um técnico especialista de campo da ATeG Leite.
Afonso Henrique Rodrigues, técnico de campo ATeG do Senar Mato Grosso, é quem acompanha o produtor, além de outros da região, e tem como missão alavancar o desempenho das propriedades identificando pontos de melhoria na condução da atividade e elaborar estratégias para colocá-las em prática.
“Nós olhamos a condição de pastagens, a água para bebida, condição corporal e saúde dos animais e conversamos com os produtores e começamos a montar um plano e partimos para a parte de gerenciamento, no qual vamos falar sobre receita, despesas, algum plano estratégico”, explica Afonso.
O especialista da ATeG do Senar Mato Grosso comenta que no caso de Cícero a primeira recomendação foi programar o aumento da capineira, com o intuito de garantir maior oferta de comida para o rebanho durante o período seco do ano.
Outra orientação foi a subdivisão da área em piquetes para a implantação do pastejo rotacionado. Ao todo foram feitos quatro piquetes de cada lado na propriedade, com corredor. E, para evitar o risco de machucar os animais, no local nada de arame farpado.
“A cerca elétrica de um fio é mais barata. O arame farpado para gado leiteiro não é indicado, porque uma vaca pode pular e rasgar os tetos. Isso vai ocasionar problemas, sem contar que pode perder os tetos e às vezes até o animal de ocorrer lesão séria. Com um fio só e eletrificado nós temos um respeito do animal para que ele não pule para o outro lado”, frisa Afonso.
A disponibilidade de água para o rebanho também foi outra melhoria realizada na propriedade. A abertura de um novo poço artesiano garante hoje o abastecimento de quatro bebedouros. Além disso, no que tange ao fornecimento de ração, se passou a levar em conta a necessidade de cada animal.
“A ração antes era dada de qualquer jeito, porque ele não pesava o leite. Com ele pesando o leite, a gente consegue mensurar o que cada vaca necessita para comer. Se aquela vaca vai precisar de um, dois quilos de ração ou três quilos”.
Orientações seguidas à risca, resultados na ponta
A primeira visita do técnico de campo da ATeG Leite do Senar Mato Grosso no Sítio Duas Irmãs ocorreu em outubro de 2022. Na época a produção diária de leite girava em torno de 30 litros. De lá para cá, praticamente triplicou.
De acordo com Afonso, o produtor continua com o mesmo rebanho. Contudo, o número de vacas em lactação que antes era de 15 a 20, hoje é de 10 a 12 animais.
“Com 15 a 20 vacas ele chegava ali no auge dele, vamos dizer, 50 litros às vezes no período das águas. No período da seca 30, 40 litros. E com a chegada da assistência técnica, a pesagem do leite, nós conseguimos com apenas 10,12 animais até 120 litros de leite ao dia. Então é menos animais e mais produção”.
A produção de leite do Sítio Duas Irmãs é transformada em queijo. Segundo Silvana Ferreira de Souza, esposa de Cícero, a transformação do leite em queijo é decorrente ao fato de na região não haver um laticínio.
“Então, nós optamos por fazer o queijo e fazer a clientela. Tem vezes que por semana levamos 70 queijos para vender”, diz ela ao programa Senar Transforma, revelando ainda que o sonho hoje da família é conseguir o registro de Serviço de Inspeção Municipal.
E os números da produção de leite, queijo, o que entra e sai na propriedade, investimentos, melhorias, ajustes nas dietas dos animais, tudo vai para uma planilha e mensalmente repassado para o técnico de campo do Senar Mato Grosso, que coloca em um sistema e com isso auxilia a família a traçar os próximos passos no local.
ATeG do Senar Mato Grosso atende diversos setores
Desde 2015 o Senar Mato Grosso passou a oferecer Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). No estado o programa atua em diversas frentes de trabalho: Agroindústria, Apicultura, Avicultura, Cafeicultura, Bovinocultura de Corte e de Leite, Floricultura, Fruticultura, Grãos, Olericultura, Ovinocaprinocultura de Corte, Piscicultura e Cacauicultura.
“São atendimentos individuais e mensais. Esses produtores receberão 36 visitas do técnico de campo e todos os nossos produtos do Senar são gratuitos”, pontua Túlio Marçal, supervisor da ATeG do Senar Mato Grosso.
De acordo com o supervisor regional do Senar Mato Grosso, Rodrigo Gonçalves, hoje o critério para ser atendido por uma das frentes de trabalho do programa é que o interesse precisa partir do produtor.
Ele explica que caso a frente não exista no município ou a atividade não esteja em meio ao portfólio, o produtor deve apresentar a solicitação ao Sindicato Rural do município, que reporta para o Senar Mato Grosso, que em seguida dá início ao desenvolvimento do projeto.
“O intuito da assistência técnica é transformar a vida. A gente transforma a vida de um produtor rural, que às vezes vem numa continuidade de trabalho, que às vezes é um ciclo que ele já sabe o que fazer e a nós trazemos um pouquinho de técnica para equilibrar o conhecimento que ele já tem e assim evoluir para um patamar maior de rentabilidade, sustentabilidade, de redução de custos, para que ele consiga gastar menos e produzir mais e ter uma qualidade de vida”, destaca Rodrigo.
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