Localizada há cerca de dez quilômetros da área urbana de Diamantino, na BR-364, a Chácara Dois Irmãos vive uma nova realidade. Do leite para a olericultura e o maracujá, a propriedade encontrou na assistência técnica e gerencial o conhecimento necessário para progredir na produção e também garantir o futuro da atividade com o retorno de um dos filhos para o dia a dia no campo.
São 6,8 hectares de terra de uma família que transborda simplicidade e simpatia. Um exemplo de como o amor pelo campo, a determinação e o esforço conjunto formam uma combinação de sucesso.
A Chácara Dois Irmãos é uma realização do produtor Nestor Rocha dos Santos, que há 40 anos chegou em Mato Grosso. Nascido na Bahia e filho de pequenos agricultores, ele trocou a função de pedreiro para produtor quando em 2006 conseguiu adquirir o seu sonhado pedacinho de terra.
Ele conta ao programa Senar Transforma desta semana que a propriedade começou com a produção de leite, contudo a atividade era “muito difícil” e de custo muito alto devido a ração e pastagem não dava conta.
“Optamos por uma horta, até que nos desfizemos das vacas e investimos mais nela, como estamos investindo, e partirmos para o maracujá que é outra fonte. Para nós ele é uma poupança”, comenta Nestor.
Maracujá: um espaço conquistado pela insistência
A produção de maracujá hoje é essencial para o caixa da Chácara Dois Irmãos e só conquistou o seu espaço após muita insistência do ‘seo’ Nestor, que ficou encantado com a cultura após participar de um dia de campo de uma universidade em Tangará da Serra.
Para convencer a família a aceitar o cultivo do maracujá, a estratégia adotada foi a compra de uma fruta no supermercado e o plantio de suas sementes.
“Quando viram que estava dando frutas, estavam tomando suco, o menino falou ‘pai essa fruta é muito boa. Vamos enfrentar ela?’. O meu destino era isso aí. Eu queria ver isso ficar bonito e produzir. E estamos até hoje. A cada ano nós estamos aumentando e mudando a horta também, aperfeiçoando para ficar mais fácil e prático. E a produção nossa aqui graças a Deus o que produz sai”, diz o produtor ao programa do Canal Rural Mato Grosso.
Em pouco tempo, o produtor e a família viram que o cultivo de maracujá na chácara tinha tudo para dar certo. Faltava apenas a orientação técnica, que logo bateu na porta da propriedade.
“O pessoal do Senar veio aqui, não tínhamos muita experiência e aí abraçamos. A gente fica muito feliz de ele estar dando esse apoio para nós. [Faz] muita diferença. Os nossos técnicos fazem parte da família já”, frisa Nestor.
A chegada dos técnicos do Senar Mato Grosso na Chácara Dois Irmãos ocorreu há cerca de dois anos e meio, quando a propriedade passou a ser atendida pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Fruticultura.
O técnico de campo da ATeG Fruticultura, John Erick Barros Silva, conta à reportagem do Canal Rural Mato Grosso que quando chegou na propriedade havia apenas uma espaldeira de maracujá e havia o desejo de expansão.
O primeiro passo foi a realização de um diagnóstico da propriedade, segundo ele, elencando os pontos fracos e pontos fortes, além do que precisava ser melhorado.
“Elaboramos as ações que seriam executadas para podermos desenvolver ali e iniciar uma cultura. Conseguimos implantar 23 espaldeiras de maracujá e pulamos de uma produção de praticamente 100 quilos e que hoje gira em torno de sete toneladas”, destaca o técnico do Senar Mato Grosso.
De acordo com ‘seo’ Nestor, o aumento da produção possibilitou a comercialização da fruta para outros municípios vizinhos, como Nobres e Nova Mutum. Além da fruta, a família também produz a polpa.
A produção de maracujá chega varia de seis a oito meses, possibilitando, com o manejo correto e um bom planejamento, a realização de duas safras por ano. O foco no futuro da fruticultura na propriedade agora é ampliar a produtividade com novas variedades de maracujá.
“A ideia é trabalharmos com outras variedades. Ou seja, queremos diminuir a população de 800 plantas para podermos alternar com outras plantas, principalmente maracujá enxertado, pensando num melhor desempenho e produtividade”, explica John.
Fruticultura quase interrompe a horta
Com a orientação certa e na hora exata, o desempenho da fruticultura animou tanto o ‘seo’ Nestor que ele chegou a pensar em interromper a produção de verduras no local e focar toda a energia no cultivo de maracujá.
Contudo, conta o produtor ao Canal Rural Mato Grosso, foi orientado por John a permanecer na olericultura, uma vez que ali a colheita era diária, enquanto o maracujá não.
O conselho foi ouvido e a decisão de manter a atividade trouxe para o convívio da família o técnico de campo da ATeG Olericultura, Marcelo Stefanello Brondani, que identificou logo de cara um dos entraves enfrentados pelo produtor: a venda não era direta.
“Isso diminuía a margem de lucro. A partir disso tentamos fomentar a venda direta, que é onde você consegue uma maior lucratividade tirando os intermediários”, frisa Marcelo.
Outro desafio era dar conta das duas atividades, que exigem trabalho e muita atenção. A sugestão foi melhorar gradativamente a estrutura do local, visando uma maior eficiência e resultado.
Além de dobrar a área destinada para a olericultura, entre as melhorias na infraestrutura realizadas está a irrigação nas estufas por aspersão, com um ajuste com fitas de gotejamento para utilizar a aspersão quando necessário e assim utilizar menos água e economizar na energia elétrica.
Outra mudança foi a utilização de “mulching”, um tipo de lona usada para cobrir o solo da área de plantação que auxilia no combate e prevenção do crescimento de ervas daninha, além de reduzir a perda de água do solo.
Mudanças e oportunidades trazem filho de volta
As mudanças observadas na Chácara Dois Irmãos, diante da parceria com o Senar Mato Grosso, não apenas são um sucesso, como são geradoras de oportunidades.
As mudanças foram capazes, inclusive, de com um olhar no futuro, trazer o filho mais novo do casal de volta ao campo, após 13 anos trabalhando na área administrativa de uma madeireira.
“Eu vi na propriedade do meu pai uma oportunidade. Quando eu saí não tinha essa oportunidade de trabalhar no campo como tem agora. Isso foi uma influência muito grande também do Senar”, conta Wissley Guimarães dos Santos, que deixou o emprego estável na madeireira há seis meses.
Na avaliação de Wissley as mudanças ampliaram muito e trouxeram uma visão diferente do campo.
“O campo tem uma oportunidade muito grande. Então essas mudanças trouxeram realmente a vontade de voltar, de produzir no campo. Faz aproximadamente seis meses que estou aqui e não me arrependo em nenhum momento. Foi uma das melhores decisões que eu tomei na minha vida”.
O retorno do filho trouxe novo folego para o ‘seo’ Nestor e para a dona Cleide Guimarães dos Santos, sua companheira de vida e de sonhos. Ex-cozinheira, ela também deixou a profissão para cuidar exclusivamente da produção na chácara.
Três vezes por semana, conta dona Cleide, ela realiza a venda dos produtos nos supermercados e demais estabelecimentos de Diamantino para os quais comercializam a produção.
“Nós estamos fazendo hoje a comercialização de 1,2 mil pacotes [hortaliças] por semana, fora alguns que vendemos aqui mesmo. Também vendemos essas verduras para as escolas e também levamos para o CRAS, que é um projeto da Conab que também recebe as nossas mercadorias”.
Conforme a produtora, para os supermercados os pacotes de hortaliças são vendidos entre R$ 3,50 e R$ 3,80. Já para outros locais as vendas são realizadas por quilo.
Sonhos para o futuro já traçados
Na propriedade há uma área, segundo o ‘seo’ Nestor, de aproximadamente um hectare destinada para o cultivo de mandioca que ele planeja transformar em uma área para o maracujá.
Atualmente, a horta e o maracujá ocupam 1,5 hectare da propriedade.
“Pode chegar a 2,5 hectares, que é o nosso plano, porque temos planos de montar a nossa fábrica de polpa para mandarmos para fora. O sonho você não pode perder, não. Você tem sempre que estar sonhando e tendo esperança que ele venha. E vem completo, porque você ter hoje a sua família junto com você é o bem mais precioso que tem”.
E para a dona Cleide, além de seguir produzindo, o sonho é ter os dois filhos juntos trabalhando na propriedade junto com o pai.
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