Sensibilizadas com um possível cenário de perdas significativas de produtividade e rentabilidade na segunda safra de milho, empresas ligadas ao setor produtivo em Mato Grosso do Sul se unem aos agricultores para oferecer alternativas favoráveis que possam ajudar a minimizar os prejuízos e garantir a permanência na atividade na próxima temporada. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do estado (Famasul), cerca de 12% do cereal previsto já foi comercializado.
Com propriedade em Maracaju, região sul do estado, o agricultor Luciano Muzzi Mendes, para evitar maiores prejuízos com o risco de plantar milho fora da janela ideal, mudou os planos e reduziu a área este ano. Ao todo 1,3 mil hectares foram semeados nesta temporada. Estratégia acertada, segundo o produtor, diante do atual cenário da cultura no município, com estimativa de perdas provocadas pelo clima adverso que castigou algumas lavouras.
“Tem de tudo. Milho com potencial acima de 100 sacas, mas tem milho muito ruim. Dependendo da época com a qual esse milho foi plantado, ele tem menos milímetro de chuva em cima dele. Então, a quebra pode ser expressiva. Eu estimo aqui no município que ela gira em torno de 30% se a gente pegar o cenário todo que temos dentro do município”, comenta Luciano.
Realidade enfrentada pelos milharais cultivados na propriedade de Fábio Caminha, que registraram perdas significativas de desempenho em alguns talhões.
“Tivemos uma recessão hídrica muito forte na maioria dos períodos, inclusive no reprodutivo. Alguns talhões conseguiram escapar e devemos colher próximo do que estava projetado. Mas, alguns talhões vamos colher bem abaixo. Estou estimando aí 30% de perdas de produtividade”, diz Fábio em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso.
Com quase metade da safra comercializada antecipadamente, Fábio revela estar apreensivo quanto à rentabilidade da produção, que este ano também pode ficar bem abaixo do esperado diante da desvalorização do grão.
“Os custos ainda não estavam em patamares tão adequados quando fizemos essa safra, um custo ainda um pouco elevado, e a redução de preço também fez com que ficássemos mais dependentes da produtividade que nós não vamos ter. Então, infelizmente a rentabilidade no milho vai ser bem baixa. Vamos atravessar redução de investimentos, corte de custos. Acho que é o caminho que temos que fazer. Não tem como ser diferente”.
Na avaliação do gerente regional da Inpasa em Mato Grosso do Sul, Rui Farias Filho, 2024 é um ano difícil que só perde para 2021, quando o estado registrou uma “seca enorme” e depois geadas consecutivas.
“Estamos falando hoje de 9,5 milhões a dez milhões de toneladas. É um consenso do mercado. É realmente um baque para a região. O que nos ajudou, a indústria no geral, é que tinha uma produção boa no ano passado, tinha um estoque de passagem. Então, a gente comprou milho disponível lá em fevereiro, março e abril e trouxe isso para dentro da indústria e alongou um pouco mais. Mas, nós estamos participando do mercado, estamos disponíveis para compra, entendendo a realidade da região. Estamos pegando os lotes dos produtores, entendendo a necessidade do produtor e tentando fazer o melhor negócio para ambos”.
De acordo com Emerson Luiz Perosa, presidente do Sicredi Pantanal Mato Grosso do Sul, diante da situação, a instituição financeira cooperativa se antecipou e procurou os seus associados para auxiliá-los quanto à flexibilização do fluxo de caixa.
“Sempre buscamos atender o produtor rural em todas as suas demandas, tanto com recursos repassados, BNDES e FCO. Mas, ultimamente estamos usando muito recurso da própria cooperativa para poder atender esse produtor”.
O presidente do Sicredi Pantanal Mato Grosso do Sul ressalta acreditar que no próximo ano a instituição terá todas as linhas de créditos para os produtores, porém com um pouco mais de critério em relação às garantias, concessão e limites de crédito.
Conforme recente boletim divulgado pela Famasul, até agora foram comercializados cerca de 12% do volume de milho previsto para a temporada 2023/24 no estado, quantidade bem inferior aos 22% registrados na comparação com o mesmo período no ciclo passado.
O analista de economia da Famasul, Jean Carlos da Silva Américo, pontua que por mais que os preços nos últimos meses tenham registrado uma leve melhora, ao se comparar com o mesmo período da safra passada há uma queda por volta de 20% a 25%.
“Na época a saca valia por volta de R$ 70. Hoje está em torno de R$ 50. Então, a questão do preço contribui. Outro fator é a disponibilidade. Na safra passada nós tivemos uma safra de aproximadamente 14 milhões de toneladas e hoje temos uma expectativa de redução. Estimamos colher por volta de 11 milhões de toneladas”.
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