MAIS MILHO

Com preços baixos e risco climático área de milho deve cair 30% em Jaciara

Agricultores esperavam recuperar no cereal a frustração financeira deixada pela soja, diante da influência do El Niño

Com 97,81% das lavouras de milho segunda safra já semeadas em Mato Grosso, os agricultores estão apreensivos. Entre os motivos estão os baixos preços do grão e o risco de faltar chuva para as áreas cultivadas fora da janela ideal. Em Jaciara, região sudeste do estado, o investimento na cultura será menor este ano. Os milharais devem encolher 30%.

A soja ocupou nesta temporada cerca de 1,7 mil hectares na propriedade do agricultor Gabriel Berwanger. Os trabalhos de colheita por lá estão na reta final e, segundo ele, mesmo conseguindo um bom desempenho nos últimos talhões, a expectativa é de uma média de produtividade bem abaixo do esperado.

“O ano foi complicado desde o cultivo. A soja sentiu muito no início de novembro, em janeiro novamente outro veranico. Tivemos perdas de 10% a 15% na produtividade da soja”.

A esperança do agricultor de Jaciara, como relatado ao Canal Rural Mato Grosso, é tentar recuperar a frustração financeira deixada pela oleaginosa no milho segunda safra. O cereal deve ocupar 1,3 mil hectares da fazenda. Contudo, a influência do fenômeno El Niño continua sendo o grande desafio.

“As últimas áreas de soja em janeiro pegaram um veranico de 12 a 15 dias. Teve lugar que até mais. Agora de fevereiro para março outro veranico”.

Gabriel comenta ainda que os milhos mais velhos se encontram em uma fase mais crítica, já sentindo uma necessidade hídrica, com bordaduras e locais mais compactados.

“Está enrolando as folhas por falta de água. É uma apreensão. Você pega na região, em fevereiro a pluviometria aqui é de cerca de 250 a 300 e poucos milímetros e esse ano choveu em fevereiro 140 milímetros. O nosso medo é chegar na época do pendoamento a chuva cortar ou até mesmo antes. Aí a produtividade vai ralo abaixo. Você plantar milho pra colher 100 sacos ou abaixo disso é inviável”.

Produtividade no milho preocupa

A apreensão quanto a produtividade do milho toma conta em outras propriedades. Em Jaciara a janela ideal de milho, conforme pontuam os produtores, encerra entre 20 e 25 de fevereiro. Passado o período, o risco de redução de produtividade é ainda maior.

O agricultor Jorge Diego Giacomelli conta começou o plantio do cereal entre o final de janeiro e o início de fevereiro, contudo a colheita da soja foi muito escalonada.

“Relativamente começou em uma janela boa, mas terminou muito tarde. A chuva aqui costuma cortar muito cedo. Final de março, abril já chove pouco. Então, o pessoal já vai com o menos pé no acelerador nesta questão. Aqui uma janela ideal para nós é dia 20, 25 de fevereiro. Passou disso é milho que atinge suas 70, 75 sacas. Isso quando não dá um veranico mais pesado e o produtor começa a colher 35, 40 sacas. O que é prejuízo, é trabalho jogado fora”, pontua ao Canal Rural Mato Grosso.

De acordo com Jorge Diego, em sua propriedade a área programada de milho teve uma redução de 30%. “E uma visão que nós temos aqui dos vizinhos também ficou nesta média entre 25% e 30% de redução de área de milho. Pelo menos entre 20% e 25% no geral da área de Jaciara será reduzido”.

Desvalorização do grão

A desvalorização do cereal é outro motivo que desanima os agricultores da região a investir na cultura nesta safra. Até quem tinha condições de plantar o grão dentro de uma janela ideal favorável decidiu não arriscar e optou em reduzir a área.

É o caso do agricultor Jefferson Schinoca que nesta temporada deve plantar um mil hectares de milho. A extensão é 30% menor que a cultivada na safra passada. “Os preços não nos agradam nem um pouquinho. A expectativa não é boa. É pagar para trabalhar”.

Jefferson comenta que tentar reduzir a área para ter uma produtividade melhor e procurar as melhores terras, não semear mais em terras mistas, é uma alternativa para a obtenção de uma produção melhor, bem como tentar ver se a conta fecha.

“A gente só sabe fazer isso. A gente só sabe produzir alimento e o que a gente produz não tem preço para nada. As condições de solo nossa estão boas, então a gente tem que plantar. Mas, plantamos no escuro”.

Para o agricultor Jorge Diego o caminho certo é o produtor ter cautela. “Ele tem que trabalhar com o fator de risco no mínimo possível. Tem que tentar tocas a propriedade da maneira mais rentável possível, porque essa safra de milho realmente é uma safra para o produtor sobreviver”.

Jorge Diego salienta que a região “é uma das regiões que melhor precifica no estado”, pois está muito próxima de Rondonópolis. Conforme ele, atualmente as “melhores ofertas” giram em torno de R$ 40 a saca para entrega em julho e pagamento em 30 de agosto.

“O milho teria que estar no mínimo na casa dos seus R$ 50 para começar a dar alguma margem de lucro para o produtor. O produtor tem que ir acompanhando a sua safra, fazer o dever de casa e buscar os melhores preços para negociar. E caso não consiga cumprir com os seus compromissos sentar com os seus credores, fornecedores e tentar uma negociação, porque esse vai ser mais um ano de parceria. Todo ano que é ruim temos que ter parceria, tem que ter a negociação”.

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