PATRULHEIRO AGRO

Plantio travado e solo quente desafiam o início da soja no leste de MT

Veranicos prolongados, baixa umidade e calor intenso dificultam o avanço da semeadura na região

O início da safra de soja 2025/26 no leste de Mato Grosso tem sido marcado por atrasos e incertezas. A combinação de veranicos prolongados, solo aquecido e falta de umidade comprometeu o desenvolvimento das primeiras áreas plantadas, levando produtores a reavaliar estratégias e, em muitos casos, recorrer ao replantio.

Em Canarana, áreas recém-convertidas de pastagem para lavoura foram as mais afetadas. Sem palhada suficiente para proteger o solo, Rafael Telles de Tenório Siqueira terá que replantar cerca de 260 hectares de soja.

Ele iniciou o plantio em 10 de outubro, mas enfrentou um veranico de 15 dias logo em seguida. “A gente imaginou pelas previsões que iria ser um ano chuvoso agora em outubro. Iniciamos o plantio com não muita umidade, mas já o suficiente para plantar. Só que tivemos esse veranico e agora é tirar o prejuízo”, relata ao Patrulheiro Agro desta semana.

Rafael explica que a área mais nova, com apenas dois anos de cultivo, sofreu mais do que a área mais antiga. “Não é um solo arenoso, é um solo de 25 a 28 de argila. A minha outra área, que já tem seis anos de cultivo, aguentou mais. Essas mais novas acabam sofrendo um pouco mais”. Segundo ele, a safrinha dessas áreas está comprometida: “Mesmo para uma safrinha de gergelim já começa a ficar tarde, já começa a passar do dia 5, 10 de março”.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Clima instável e cautela no plantio da soja

Odair Sangaletti também enfrenta dificuldades. “Foi dado o início do plantio, depois deu uma parada em torno de uns 8 a 10 dias. Está faltando a metade, 50% para concluir o plantio”.

Ele destaca que o gergelim, por deixar pouca palhada, expõe o solo ao calor. “A soja de 108/110 dias germinou, mas fica parada. Sem umidade ela não desenvolve e vai comprometer a produtividade”. Com os custos elevados e os preços pouco animadores, ele reforça: “Pensou em replantio, aí já se foi teu lucro. Não podemos ter risco. Tem que fazer um plantio com segurança”.

Camilo Ramos, diretor do Sindicato Rural de Canarana, confirma que o plantio foi feito “a conta-gotas, sempre no risco, com muita pouca umidade”.

Canarana deve cultivar cerca de 340 mil hectares de soja nesta safra e ele alerta para os impactos futuros: “Teve muitas regiões aqui que ficaram mais de 15, 16 dias sem chuvas. É o segundo veranico longo que vem nessa janela de plantio. Vai ser visto na colheita, com prejuízo de produtividade e na janela da segunda safra”.

Em Água Boa, o presidente do Sindicato Rural, Geraldo Delai, relata ao Canal Rural Mato Grosso que a maioria das propriedades apresenta falhas ou necessidade de replantio. O município deve cultivar em torno de 220 mil hectares de soja nesta safra. Até o momento, pouco mais de 30 mil hectares foram semeados.

“A gente nota que ainda tem plantas nascendo, mas essas que chegam atrasadas não conseguem recuperar a força que têm. Mesmo que tenha chuva agora, tem que ser muito otimista para que tenha uma boa produtividade aqui”. Segundo ele, há produtores que já replantaram duas vezes. “Quando você faz um replante, considera 10 sacas de soja que foram embora — sete da semente e três da mão de obra, serviços e etc”.

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Sentimento de “um dos piores anos”

Arlindo Cancian, agricultor em Canarana, resume o sentimento da região: “Para mim foi um dos piores anos no geral em Canarana em questão de chuvas no início do plantio. Agora vai ter que esperar para ver o que terá de replantio”.

Mateus Goldoni também relata à reportagem do Canal Rural Mato Grosso os efeitos da falta de cobertura no solo. “Iniciamos o plantio e já estamos praticamente com 6, 7 dias sem chuvas novamente. Os vizinhos que plantaram em palhada de milho têm soja já com 25 a 30 dias. Onde tinha essa palhada, segurou melhor a temperatura. Já nas áreas de gergelim, que deixaram pouca palhada, a temperatura aumentou, perdendo estande”.

Conforme ele, a soja mais falhada compromete o manejo e a produtividade. “Ficam retraídas neste período de sol e podem ter perdas significativas, com entre-nós menores e uma planta mais baixa”.

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