A baixa oferta de preços pagos pelo milho e a soja, somada às oscilações do dólar, considerado maior responsável financeiro das compras de insumos da próxima safra da oleaginosa, vem causando incertezas e apreensão quanto aos investimentos e a receita da futura produção dos grãos nas propriedades mato-grossenses. E a estratégia adotada por alguns agricultores para tentar garantir rentabilidade na plantação é a cautela nas compras, utilizando a poupança do solo e as sobras dos estoques da última semeadura.
A safra 2023/24 para o produtor Jorge Piccinin Filho, assim como para a maioria dos sojicultores do estado, é a temporada para ser esquecida.
“A soja já veio no vermelho. Baixa produção. Se você pegar Campo Verde, Primavera do Leste, Jaciara, aqui na região, grande parte das lavouras foram colhidas 20 sacas, 25 sacas. Não choveu e acabou atrasando todo o ciclo e o milho ficou fora da janela uma grande parte”, diz ele ao Patrulheiro Agro desta semana.
Segundo o agricultor, no que diz respeito ao milho, as perspectivas nas primeiras áreas eram de uma boa produção. Contudo, se observou recuo de 15, 20 sacas por hectare. Já o cereal semeado fora da janela “a gente está falando de umas 60, 70 sacas a menos”, diante da incidência de cigarrinha, percevejo, além do clima adverso, com altas temperaturas.
“Foi bem atípico. Desvalorização da comodity e os custos em dólar cada vez mais altos, porque é tudo em dólar. Aí não fecha a conta”, completa Jorge Piccinin Filho.
Diante de tal situação, o reflexo para a próxima safra é de “cautela”. “Planta com o que tem, com o maquinário que tem, do jeito que dá. Olhando os estoques, olhando tudo o que temos e comprando apenas o necessário para a gente tentar minimizar os custos e fazer um negócio mais enxuto. Vamos pensar em investimentos lá para a frente. Agora não. Agora é pé no chão”.
Jorge Piccinin Filho revela ao Patrulheiro Agro, do Canal Rural Mato Grosso, que já adquiriu os insumos que pretende usar na área de soja na safra 2024/25, que deve ocupar cinco mil hectares entre Campo Verde e Jaciara, na região sudeste de Mato Grosso.
Cautela de norte a sul, de leste a oeste
Em Vera, região norte do estado, a cautela também é adotada pelo produtor Tiago Strapasson. Entre as estratégias adotadas está manter os mesmos 1.320 hectares semeados na temporada 2023/24.
“Pela desvalorização do grão hoje, se você não correr atrás, mudar algumas estratégias de compra e venda, a conta não fecha. Tinha uma segurança maior, hoje o mercado com essas oscilações que está dando ele te obriga a participar mais, ter uma análise melhor para tomar as decisões, porque uma decisão errada é prejuízo na certa”, frisa Tiago Strapasson.
O produtor salienta ainda que em relação a parte de investimentos em adubação no momento não pensam em ampliar e sim manter, pois as contas também não fecham.
“Tem que sobrar um lucro para o bolso, porque o custo operacional ficou muito alto. Nós tentamos enxugar de tudo quanto é forma para tentar fecharmos no verde no final. Mudamos a estratégia nos últimos anos. Vínhamos comercializando o grão para comprar os produtos e esse ano nós partimos para a opção de fazer troca de grãos pelos produtos. Vamos usar o milho de agora para garantir a safra de soja do próximo ano”.
Oscilação do dólar gera preocupação
De acordo com Tiago Strapasson, o momento atual das commodities, principalmente diante das oscilações diárias do dólar, “está dando uma insegurança de sair comprando os insumos”.
“De um dia para o outro muda radicalmente o dólar e os preços dos insumos sobem e ele esquece de baixar. Então, é complicado”.
Conforme o último levantamento de custo de produção da soja do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgado em julho, o custo total para o cultivo da oleaginosa no estado para a safra 2024/25 estava estimado em R$ 7.135,55 por hectare em médio. Para conseguir cobrir as despesas, o instituto pontua que o produtor deverá comercializar a saca de 60 quilos do grão a no mínimo R$ 95 ou produzir ao menos 52,9 sacas por hectare.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, destaca ao Canal Rural Mato Grosso que “a conta do produtor sempre é a troca”.
“Ou seja, é grão. Independente de se ele compra à vista, a prazo, dólar, ele tem que ter um histórico das compras dos outros anos e ver quando a margem de troca, a base de troca, está parecida é o momento de se fazer as negociações. Hoje, se a gente considerar o preço da soja e o custo dos insumos, principalmente dos fertilizantes, considerando também essa alta do dólar que subiu ainda mais os custos de transportes aqui no Brasil e dos insumos, o produtor não está fechando margens”.
O presidente da Aprosoja-MT frisa ainda que “está muito difícil para os produtores brasileiros, ainda mais diante de toda essa crise de juros altos nos financiamentos”, além da margem apertada.
Ainda conforme o Imea, a área de soja estimada em Mato Grosso para a safra 2024/25 é de 12,661 milhões de hectares, 1,47% maior do que a semeada na última temporada, com uma produtividade esperada de 57,9 sacas do grão por hectare em média.
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