PATRULHEIRO AGRO

Energia elétrica ineficiente prejudica irrigação da terceira safra em MT

O estado conta com 200 mil hectares de irrigação e para chegar a quatro milhões é preciso que reparos sejam feitos, visto a proporção que as áreas possuem 

Falta de manutenção nas redes elétricas, oscilações na capacidade de quilowatt-hora e a lentidão na implantação de energia fotovoltaica são alguns dos motivos que descontentam produtores. A gravidade do problema se destaca nesta terceira safra de feijão em Sorriso, médio-norte de Mato Grosso, na qual alguns agricultores estão perdendo produtividade pela falta de condições para ligar os pivôs nas lavouras. 

Os produtores rurais da região estão indignados com a concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica no estado. Conforme o gestor do Grupo Bocchi, Cristiano Copini, em entrevista ao Patrulheiro Agro desta semana, a situação tem sido o “calo” no dia a dia da produção irrigada. 

“Nós temos uma ampla perda de produção, porque não conseguimos irrigar nos melhores momentos, nosso horário é reservado a noite e não consigo usar essa energia. Porém quando tenho que utilizar fora do horário reservado, na vaporização, existe todo um problema técnico que acaba influenciando na falta da energia. Isso aumenta os custos na produção e obviamente aumenta os custos do alimento que chega na mesa do consumidor final”, afirma.

Foto: Pedro Silvestre/ Canal Rural MT

O Grupo Bocchi possui uma área de 7.250 hectares em Sorriso. Desse total, 1.535 hectares são irrigados e debaixo dos pivôs são realizadas as três safras anuais: uma de soja, uma de milho e uma de feijão.   

“Nós buscamos ser auto sustentável com uma produção de energia fotovoltaica. Hoje, aqui na propriedade nós temos quatro usinas instaladas e três delas funcionando. Uma delas está há cerca de um ano pronta sem conseguir estar gerando energia, por falta de estruturas das redes que a concessionária não consegue entregar para a propriedade”, explica. 

O problema também é presente na comunidade do Barreiro. A fazenda do agricultor Romélio Gardin, enfrenta essas dificuldades que utiliza a energia vinda da região de Sinop, ao norte do estado. 

“De Sinop para chegar até aqui dá cerca de 70 quilômetros. Na época em que foi construída, em 1999, não tinha pivô e o pessoal foi ligando, recebendo autorização e a rede continua a mesma até hoje. Até planejaram construir uma rede que dá 14 quilômetros saindo da BR-163. Até agora, não fizeram nada. Às vezes, a energia é para ser de 380 e cai para 330 quilowatt-hora”, pontua Romélio. 

Para tentar conter o risco de perdas dos equipamentos, provocados pelas oscilações na rede elétrica, Romélio precisou investir na compra de geradores. Uma alternativa que, segundo ele, tira uma boa quantia da rentabilidade da produção de toda a safra. “O valor é de quase R$ 300 por hora. Muitas vezes, tem vários caminhões por aqui e não tem energia”. 

Além do custo mensal de, aproximadamente, R$ 60 mil na conta de energia elétrica, Romélio também desembolsou mais de R$ 160 mil na compra dos geradores para o armazém e para as casas. 

Foto: Pedro Silvestre/ Canal Rural MT

Produtores já passaram grade em alguns locais

O presidente da  Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Grãos Especiais e Irrigantes de Mato Grosso (Aprofir-MT), Hugo Garcia, diz que alguns produtores relatam que, neste ano, já passaram grade no local. Atualmente, a associação possui 178 associados que contribuem com 200 mil hectares irrigados no estado. 

“Alguns não conseguem ligar o pivô, nasceu e ficou quase dez dias sem irrigar. Passaram a grade e desistiram do feijão. A energia para tocar o pivô tem que ser uma energia de qualidade e a gente não está recebendo isso. Vamos ter que chamar a Energisa para conversar porque nós precisamos resolver, isso é um problema econômico muito sério para o estado e também um problema de alimentação para o Brasil”, frisa.

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