MT SUSTENTÁVEL

Projeto agrícola de Índios Paresi completa 20 anos de produção em larga escala

Hoje são 20 mil hectares de lavoura convencional com duas safras anuais; propriedade fica dentro da reserva indígena Paresi

Soja, milho pipoca, feijão, painço e gergelim. Estas são algumas das culturas produzidas na fazenda Matsene Kalôre, que fica dentro da reserva indígena Paresi, na divisa entre os municípios de Campo Novo do Parecis e Sapezal, no oeste mato-grossense. O local faz parte de um projeto de implantação da agricultura de escala na aldeia que completou 20 anos nesta safra.

A propriedade, que traduzindo significa roça grande, é uma das áreas de cultivo dos 19.750 hectares utilizados para plantio de grãos em larga escala.

Participam do projeto as etnias Paresi, com 90% da área, e, Manoki e Nhambiquara, com 5% cada.

Lucio Avelino Ozanazokaese é o primeiro índio Paresi formado em agronomia e um dos responsáveis técnicos das lavouras. Ele explica que a diversificação de culturas e variedades, a exemplo do feijão que são sete, decorre da busca por uma maior agregação de valor ao produto.

“Por isso que procuramos diversificar. No nosso caso, é permitido somente o plantio convencional, inviabilizando o plantio do milho comum convencional. Ele está produzindo um pouco menos do que um material com mais tecnologia. Então, isso nos permite a poder agregar valor ao produto e ter uma renda que possa servir no reinvestimento na lavoura em si, questão de fertilidade do solo e estruturação das sedes das nossas áreas”, pontua Lucio ao MT Sustentável desta semana.

Cooperativas auxiliam na organização

Quatro cooperativas foram criadas como forma de organização. Cada uma é responsável por parte da área cultivada e através delas são feitos os contratos de trabalho.

Atualmente, cerca de 200 pessoas estão ligadas formalmente a um emprego dentro da aldeia, com salários médios de R$ 2,5 mil. Contudo, os ganhos com a lavoura vão além.

O sucesso na produção agrícola trouxe impactos positivos diretos às aldeias. Parte do resultado financeiro da safra de soja é distribuída igualitariamente a todos os moradores, o que contribui para melhorar a qualidade de vida das famílias.

“O principal objetivo do projeto agrícola das cooperativas é o social. É a gente reverter isso para as comunidades indígenas. Então, já é garantido três sacas para um programa chamado Distribuição de Renda Comunitária. As quatro cooperativas têm um cadastro, onde são inseridas todas as famílias e todos os indivíduos. E, esse cadastro é a base da distribuição. E cada família é beneficiada a toda safra”, frisa o presidente da Coopiparesi, Genilson Kezomae.

Recurso obtido na agricultura permite desenvolvimento

O dinheiro obtido com a comercialização da produção agrícola possibilitou o desenvolvimento de vários outros projetos, inclusive o de resgate da cultura Paresi entre os próprios índios.

Conforme o cacique da aldeia Wazare, Rony Azonaise, no local foi desenvolvido o projeto de etnoturismo indígena, que inclusive é o carro chefe da aldeia, além da piscicultura, avicultura, pomicultura e também farmácia viva.

“E também artesanato. O ano passado estivemos em Dubai, na COP-28, fazendo a divulgação do etnoturismo à nível global”, comenta ele ao Canal Rural Mato Grosso.

O presidente da Copihanama, Arnaldo Zunizakae, um dos pioneiros que lutaram para a implantação da agricultura de escala há 20 anos, pontua que “através da questão econômica melhorada ele supera a questão da discriminação, do preconceito, do tratamento diferenciado”.

“Hoje, o povo Paresi, aqui nos municípios de Tangará da Serra, Campo Novo do Pareci e Sapezal, ele é visto como um cidadão normal pelo fato de ele ter condições de entrar em um restaurante e pagar o seu almoço, entrar no supermercado e fazer sua compra com o seu próprio dinheiro. Então, a autoestima, a dignidade, a qualidade de vida são coisas que a gente adquiriu com todo esse trabalho”.

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