Agricultores e empresas receptoras de grãos no Vale do Araguaia, em Mato Grosso, se preparam para uma possível concentração da colheita de soja na região. A perspectiva de excesso de chuvas no período da retirada da safra do campo também é outro motivo de apreensão no nordeste do estado.
A chuva tem sido generosa nesta safra com as lavouras de soja cultivadas nos principais municípios produtores no Vale do Araguaia, segundo os produtores da região, ao contrário da temporada passada. A boa umidade no solo, está colaborando para o bom desempenho da plantação e deixando os agricultores otimistas em relação à produtividade.
Em Água Boa, o produtor Vinicius Baldo comenta, ao Canal Rural Mato Grosso, que destinou oito mil hectares para a soja. Ele pontua que para o município o que se tem visto de chuva é algo “anormal”, pois nem mesmo os moradores mais antigos viram tal acontecimento.
“Muita chuva. Nós estamos com mais de mil milímetros acumulados desde setembro. É histórico. A gente conversa com os mais antigos e eles falam que nunca viram isso na história da região nessa época. As chuvas com o sol quente é o que mais a planta de soja gosta”.
O vice-presidente leste da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso), Diego Dall Asta, pontua que o plantio da soja nesta temporada iniciou “um pouquinho atrasado”, sendo observado mais para o final de outubro.
“Após as primeiras chuvas o plantio se deu de forma satisfatória, ocorreu de maneira agilizada, fazendo com que o Vale do Araguaia terminasse dentro da janela boa. E, o que vemos hoje são lavouras bonitas e bem desenvolvidas desde Querência, Canarana, Água Boa, Nova Xavantina. Todos os municípios estão com o plantio de ótima qualidade. O produtor precisa de uma safra boa esse ano para que possamos recuperar um pouco da safra do ano passado”, diz ele ao Canal Rural Mato Grosso.
Déficit de armazenagem no Vale do Araguaia preocupa
A expectativa, conforme o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wisch, diante das atuais condições das lavouras, “é que se consiga pelo menos colher as médias que a gente vinha alcançando antes desse problema climático do ano passado”.
Entretanto, a estimativa de uma boa safra no campo também desperta preocupação nos produtores por dois motivos: um é a possível concentração da colheita e o outro por um problema considerado crônico na região que é a carência de espaço para guardar a produção.
“O problema não é só nosso. Todo o Vale do Araguaia, todo o estado de Mato Grosso tem esse problema. O déficit de armazenagem é gigantesco e com certeza vai ter problema. Uma que, por mais que não se produza tanto assim, se produza uma safra normal, concentrou demais os plantios. A área de Canarana dá para se falar que foi plantada praticamente em menos de 30 dias. São 300 mil hectares de lavoura dentro de um prazo de 30 dias para colher e não temos armazéns”, frisa Alex Wisch.
Em Água Boa, um armazém está prestes a entrar em funcionamento. Contudo, na avaliação do presidente do Sindicato Rural do município, Geraldo Delai, não é o suficiente para sanar o problema.
“Não é um armazém que vai resolver uma área de 200 mil hectares como está Água Boa hoje. Ainda bem que as tradings têm uma boa logística. Então vai colhendo, vai se transportando e levando embora. Mas, o déficit é muito grande e a gente não tem capacidade de fazer armazenagem, nem mesmo da metade da área colhida que nós temos. É muito grande”.
Fevereiro de chuvas, corrida contra o tempo
As previsões meteorológicas, de acordo com o vice-presidente leste da Aprosoja Mato Grosso, Diego Dall Asta, apontam para um fevereiro chuvoso, acima da média. Ele comenta à reportagem que tanto a entidade como os produtores já alertaram as tradings quanto à possibilidade de concentração da colheita para que elas possam se organizar e melhorar o recebimento do grão.
“O produtor vai precisar colher nos momentos em que abrir o sol. Talvez com mais umidade. As empresas têm que estar preparadas e o produtor tem que estar preparado”.
Tal reivindicação do setor produtivo já está sendo colocada em prática em algumas empresas na região do Vale do Araguaia.
“Estamos com uma previsão de colocar mais uns silos pulmões para fazer essa ampliação também. É o que realmente dá maior cadência para a gente. Nós conseguimos tramitar com o produto úmido, um produto avariado, com maior impureza. Então conseguimos dar uma desafogada melhor com essa capacidade e mais silos pulmões”, diz o originador da Cargill, Gabriel Santos.
O gerente comercial da Agrícola Alvorada, Talison Garcia Silva, ressalta que é preciso que os armazéns estejam bem preparados para receber a soja 2024/25. E, segundo ele, a empresa em que trabalha está preparada com relação à estrutura, tendo uma capacidade estática para quase 200 mil toneladas.
“[É] um armazém bem diferente. A gente trabalhava com lenha e hoje trabalha com cavaco. Isso dá mais eficiência, mais agilidade. Um silo pulmão de três mil toneladas que ajuda na hora de você secar o produto e fazer essa segregação. Também trabalhamos no terceiro turno, fazendo 24 horas de trabalho para conseguir secar o produto e trabalhar no outro dia normal e conseguir atender essa demanda. Todo ano é um ano desafiador e não vai ser diferente esse ano”.
Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revelam que o déficit de armazenagem no estado foi de 51 milhões de toneladas na safra 2023/24.
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