PATRULHEIRO AGRO

Perdas na soja podem gerar déficit milionário em Mato Grosso

Dívidas com investimentos ultrapassam R$ 5 milhões em alguns casos e produtores pontuam estar sem expectativa de renda para honrar os compromissos

A colheita da safra 2023/24 de soja em Mato Grosso ainda ocorre em algumas regiões. Em alguns municípios, diante dos transtornos causados pelo clima, se estima perdas em torno de 20% na produtividade final. Cenário que acende um sinal de alerta em muitas propriedades em relação à rentabilidade da lavoura. Tem agricultor com dívida de custeio na casa dos R$ 4 milhões, de investimentos entre R$ 5 milhões e 6 milhões e sem expectativa de renda para honrar os compromissos.

A preocupação em cima das perdas está tirando o sono dos produtores de Paranatinga, no sudeste de Mato Grosso. O sindicato rural do município, em relato ao Patrulheiro Agro desta semana, já estima perdas de até 20% na produtividade final do grão safra 2023/24.

Na fase final da colheita dos 1,5 mil hectares de soja cultivado nesta temporada, o produtor Vanderlei José Kochan conta que esperava uma safra melhor, uma vez que já vinha de uma ruim.

“Mas, é terrível. É pior que o ano passado. Se perdeu muito com a seca no início, na parte reprodutiva da planta secou demais. Não ia conseguir produzir o suficiente nem para pagar a conta e agora para o final [veio] uma chuva descontrolada de 400, 500 milímetros nesses últimos dias que acabou com a lavoura depois de pronta”.

De acordo com Vanderlei, se ele conseguir fechar em uma produtividade de 20 sacas é “muito”. “[Se] você colheu soja avariada, vai diminuindo mais a média agora no final com essa chuva. Mas, antes das chuvas só com as perdas para a seca nós contabilizamos 25 sacas por hectare”.

Preocupação com dívidas cresce

A estimativa de baixo rendimento no campo desperta outro sentimento que também causa muita preocupação e apreensão: o de encontrar alternativas para poder honrar os inúmeros compromissos que dependem da renda desta safra de soja.

Vanderlei comenta para a reportagem do Canal Rural Mato Grosso que a partir do dia 30 de abril há “muita conta para pagar”. O agricultor espera terminar a colheita e ver “o que dá para pagar e tentar renegociar para a frente e tocar o barco”. Conforme ele, a dívida com o custeio desta safra está “na casa dos seus R$ 4 milhões”, enquanto que investimentos em financiamento de maquinários “fecha a casa dos seus R$ 5 milhões, R$ 6 milhões”.

“Não fecha. Eu acredito que aqui vai ficar deficitário de 30%, 40% para pagar”, estima.

Falência da agricultura brasileira

O clima adverso também prejudicou o primo de Vanderlei. Ângelo Rogério Kochan semeou 2,7 mil hectares de soja na safra 2023/24. Destes, 1,5 mil hectares foram colhidos tudo feito de precisão e antes da chuva. Ele pontua que a média de produtividade fechou em 50 sacas por hectare.

“Depois achamos que iria melhorar, mas no fim acabou piorando. Deu incidência de mosca branca, foram feitas quatro aplicações. Custo maior e a planta do tarde não desenvolve direito. Já estava sentindo o sol quente, acima de 40 graus, e depois pegou 12 dias de chuva. Já estava produzindo suas 35 sacas e avariou. Acho que dá 20 só. Bem abaixo do esperado. Muito abaixo. E, estamos com duas safras ruins. Essa é péssima e se o governo não abrir o olho e fazer alguma coisa a agricultura brasileira vai falir”.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, no estado há muitos casos em que a média de produtividade deverá ficar em 10, 20 sacas por hectare.

“Esses produtores não vão conseguir cumprir nem os contratos de venda de soja para garantir o custo básico da lavoura, que seria com sementes, químicos e fertilizantes”, pontua.

Ele lembra que no início do ano a entidade solicitou auxílio do governo federal com US$ 1,5 bilhão a juros de 5,5% ao ano, com um ano de carência e cinco anos para pagar, além de uma linha de crédito de R$ 1,05 bilhão com juros de 7%, um ano de carência e sete anos para pagar.

“Ou seja, colocaria no mercado mais de R$ 40 bilhões para que os produtores pudessem acessar esses recursos justamente e a não termos esse problema na cadeia e até evitar ondas de recuperações judiciais”.

Ainda segundo o presidente da Aprosoja-MT, sabe-se que para o custeio cerca de 95% dos recursos são oriundos do setor privado e que diante disso “o que o governo anunciou não vai beneficiar praticamente em nada perto do rombo que essa crise está causando no bolso do produtor”.

“Nós precisaríamos que o Ministério da Agricultura, com o peso que ele tem, intervisse junto com as tradings, com as compradoras, para trazer uma renegociação mais digna para esses produtores, sabendo que hoje todo o risco da atividade rural fica nas mãos do produtor e na hora de renegociar ele fica sujeito às cláusulas leoninas que devastam com todo o bom histórico que o produtor teve”, diz Lucas Costa Beber ao Canal Rural Mato Grosso.

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