O clima seco e a irregularidade das chuvas em Jaciara, no sudeste de Mato Grosso, comprometem o plantio da soja e acendem o alerta para a segunda safra de algodão. Produtores rurais da região enfrentam um atraso significativo na semeadura e, ao mesmo tempo, lidam com a pressão dos altos custos de produção e a queda nos preços das commodities. O resultado é a busca por medidas drásticas. O arroz, que voltou como alternativa de renda, agora está sendo usado como ração para o gado.
O cenário em Jaciara é de preocupação. O chão seco e o pó no ar demonstram a dificuldade no campo. Em propriedades que deveriam estar finalizando a semeadura, as máquinas ainda trabalham em ritmo de força-tarefa, aproveitando a pouca umidade disponível no solo.
A principal apreensão é com a janela ideal para o plantio do algodão segunda safra, que depende da colheita da soja. O atraso se repete em todo o município.
Na fazenda de Gilson Provenssi, vice-presidente do Sindicato Rural de Jaciara, apenas 10% dos 2,5 mil hectares previstos para a soja foram plantados até agora.
“Está bastante atrasado. Em anos normais, a gente estaria praticamente encerrando o plantio”, conta Gilson Provenssi à reportagem do Canal Rural Mato Grosso.
Ele ressalta que o ciclo do algodão é mais longo, e se as chuvas de abril e maio não vierem, a situação pode ficar “preocupante”. “Normalmente, 50% dos anos não tem a chuva de maio, então é uma loteria”, alerta.
“O plantio ele já começou na janela e deveria estar terminando, e a previsão de colheita já está dando início de fevereiro”, afirma o engenheiro agrônomo Gelson Rogério Dobler.
Para o algodão, isso significa que a cultura deverá ser plantada fora da janela ideal. A irregularidade das chuvas agrava o quadro. “Tem talhões que tem cem milímetros e tem talhões que tem 20 milímetros acumulados”, explica Dobler, que apesar do cenário, mantém o planejamento para a segunda safra.

Produtores vendem gado para capitalizar lavouras
O atraso no plantio e a irregularidade hídrica se somam a outro desafio crucial: garantir a rentabilidade diante dos altos custos de produção.
Gilson Provenssi projeta um ano de preços ruins se não houver uma quebra de safra em outro lugar do mundo ou se os estoques continuarem acima da média. A dificuldade de capitalização é tamanha que ele precisou recorrer a uma medida extrema para garantir o investimento na agricultura:
“Eu, por exemplo, estou vendendo o meu rebanho de gado todo para capitalizar, porque, além de não ter mais limite em banco, com esses juros que estão aí próximos de 20% ao ano, é inviável pegar em banco. Estou optando por vender o meu rebanho de gado para investir na agricultura para poder passar este ano”.
O produtor enfatiza a necessidade de planejamento: “A agricultura também é matemática, né? Tem que ter fé, ter capricho, mas também é matemático. A gente não pode esquecer de olhar para trás e lembrar que a cada dez anos nós temos dois, ou três anos de produção ou preço ruim. Nós temos que ter mais reserva, plantar mais por conta, ao invés de aumentar a área, estar mais capitalizado e ser mais rentável”.
Arroz custa abaixo do milho e vira ração
Com a desvalorização das principais commodities, o arroz voltou a ganhar espaço nas lavouras da região como alternativa de renda. No entanto, o excesso de oferta nesta safra derrubou os preços, resultando em prejuízo e frustração.
Na propriedade da família Schinoca, parte da produção de arroz, considerado um grão nobre, acabou virando ração para o gado.
“Infelizmente, o intuito não era esse, é um absurdo a gente estar tratando de boi com arroz, um arroz nobre que é comida do brasileiro”, lamenta o produtor Jorge Schinoca.
Ele conta que o arroz foi moído e misturado com milho, torta de algodão e núcleos para a engorda do rebanho. A opção pela ração ocorreu porque o preço de mercado não compensa o custo de produção.
“Hoje o arroz está mais barato que uma saca de milho. Uma saca de milho está R$ 50 no mercado e ofereceram tanto para mim quanto para meu vizinho a R$ 35 o saco do arroz em casca. Então não tem como você pôr no mercado”.
O filho do produtor, Everton Jorge Schinoca, calcula que, para ter rentabilidade, o saco de arroz deveria estar acima de R$ 100. “O atravessador é que está ganhando dinheiro”, critica.
A situação do arroz não é isolada. O engenheiro Gelson Rogério Dobler relata que outra fazenda que ele acompanha mantém cerca de 600 toneladas armazenadas, esperando melhores preços.
“O custo [de produção] fica em torno de R$ 4 mil por hectare, e nesse preço [atual] não paga o custo, não tem como plantar. O produtor não vai plantar se não tiver uma margem de lucro. Estava um preço bom, estava dando uma margem boa para o produtor, mas infelizmente o preço caiu pela metade”, afirma Dobler.
O vice-presidente do Sindicato Rural, Gilson Provenssi, atribui o cenário à falta de apoio governamental:
“E o governo não tem nenhum programa de estocagem de arroz, nem AGF e nem IGF. Então, tem estoque sobrando e quando sobra estoque temos esse cenário de preço ruim”.
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