O tempo quente e a falta de umidade no solo seguem deixando rastros de prejuízos e incertezas quanto ao desempenho de muitas lavouras de soja em Mato Grosso. Propriedades em Nova Mutum, no médio-norte, com alto investimento em semeadura de precisão que projetavam colher entre 70 e 80 sacas por hectare, estimam hoje uma produtividade média de 8 a 12 sacas. Enquanto isso, em Água Boa, no Vale do Araguaia, tem produtor que ainda não terminou o plantio.
A adversidade climática causada pelo fenômeno El Niño nesta safra 2023/24 pegou os agricultores de Mato Grosso de surpresa. A situação provocada pela ausência de chuvas regulares e a seca, com alta temperaturas, é o assunto do episódio 118 do Patrulheiro Agro.
Produtor em Nova Mutum, Douglas Leandro dos Santos comenta que nesta safra foram cultivados 900 hectares de soja na propriedade. Conforme ele, o solo não estabeleceu umidade suficiente para sustentar a planta e quando chove a água não chega de forma igual para os talhões.
“Teve umidade para soltar o plantio. Nasceu com excelência, mas o regime de chuvas após a emergência da planta foi muito escasso. Um talhão que é muito judiado. Uma soja que era para estar na cintura da gente, não dá nem no joelho de pouca água”.
Douglas conta ainda que a área recebeu correção de solo, adubo, calagem, subsolagem. Ou seja, foi realizado alto investimento.
“Investimento para 70, 75 sacas até 80, 90 dependendo do clima. E a gente fazendo hoje uma contagem, amostra, não vemos soja para mais de 8, 12 sacas por hectare. Não paga [a conta]. A pirâmide vais crescendo. Seus fornecedores, seus contratos que você tem que cumprir. Estamos conversando com esse pessoal para estarem vindo ver a realidade, porque nenhum produtor quer passar por isso. Você quer honrar o seu compromisso, manter o seu negócio sempre firme. Nós temos 32 sacas contratadas com muito medo de não ter essas sacas na área inteira”.
Clima é a nova praga das lavouras
A engenheira agrônoma Tamara Pelisão presta consultoria agronômica nos municípios de Nova Mutum e Santa Rita do Trivelato. Segundo ela, não há uma lavoura que se possa dizer que “está muito boa”, que vai produzir muito bem.
“Infelizmente, o nosso cenário é esse de adiantamento de ciclo. Materiais mais precoce sofrendo mais, pouca vagem, vagem que olhamos e não está com enchimento bom, redução de peso. Tivemos no início redução de estande e, consequentemente, já tem menos plantas e vai ter uma menor produção. Em anos anteriores a gente via os bacheiros morrendo por doença. Esse ano é por seca”.
O presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, Paulo Zen, frisa que além de chover pouco no município, o pouco de água que cai evapora e cozinha a planta.
“O negócio é ficar centrado e cada um da porteira para dentro olhar a real quebra. E o principal: procurar informar isso às pessoas interessadas, aos bancos. Pegar seus técnicos e fazer relatórios, estar tudo bem documentado para depois chegar lá na frente na hora de fazer o acerto e ter o respaldo, porque depois que tirar a planta da terra como que é vai comprovar se você não teve um histórico. A nossa maior preocupação é essa, porque aquele contrato que a gente assina ele vai 20% para o nosso lado e 80% para o lado de quem compra”, diz Paulo Zen.
Plantio de soja ainda ocorre
O clima adverso provocado pelo fenômeno El Niño também castiga duramente as lavouras de soja no Vale do Araguaia, em Mato Grosso. No município de Água Boa, por exemplo, além das perdas significativas no campo, tem agricultor que ainda não conseguiu terminar de plantar a oleaginosa.
Este é o caso do produtor Jedson Giacomolli que corre contra o tempo para tentar finalizar o cultivo dos 1,3 mil hectares de soja programados para esta safra. Ele revela já ter vendido metade da produção que espera colher.
“Já replantei 100 hectares e estou replantando mais 200. E tem mais 300 hectares para terminar de plantar. Não chove. Só garoa. Aí o sol cozinha, a planta quer sair, mas não tem unidade suficiente. Muitas apodrecem e muitas perdem a semente. Estamos aqui desde 1976 e é a primeira vez que a gente assiste isso”.
De acordo Jedson, o plantio que normalmente dura entre 15 e 18 dias, nesta safra 2023/24 está durando quase dois meses.
“Tem noites que a gente nem dorme direito pensando nos compromissos que não vai conseguir honrar. Sempre honramos, mas esse ano está difícil. Vai dar de 30%a a 35% [de quebra], se não for mais”.
O setor produtivo dos municípios de Água Boa e Nova Nazaré, pontua o Sindicato Rural, solicitou que as prefeituras decretem situação de emergência por causa da estiagem.
“Tem algumas áreas que o produtor já tem 47 dias sem chuvas de verdade. Então, essas áreas já vão ser abandonadas. [Temos] áreas sendo replantadas inclusive, tem áreas que estão regulares e vão continuar. Mas, a maioria não tem um estande ideal ou adequado. As perdas no município de soja vão ser em torno de 30% a 40%, com certeza”, comenta o presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Geraldo Delai.
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