FOLIARES

Doenças nas lavouras de algodão causam perdas de R$ 4 bilhões

Segundo a Abrapa, hoje o Brasil leva 10 anos para aprovar uma nova molécula, que já está em uso em países como a Argentina e Paraguai

A qualidade do algodão e o desempenho expressivo das lavouras levaram o Brasil ao topo da exportação mundial do produto. Mas, para permanecer como referência, é preciso estar preparado para enfrentar ameaças que causam impactos gigantescos ao setor, como é o caso das doenças foliares. Destaque para a ramulária e a mancha-alvo que, juntas, chegam a causar prejuízos em torno de R$ 4 bilhões a cada safra.

Em Jaciara, região sudeste de Mato Grosso, a soja é a principal cultura de primeira safra na Fazenda Santo Expedito. Por lá, a oleaginosa ocupa 4,8 mil hectares, que após a sua colheita 2,3 mil hectares dão lugar para o algodão.

“Estamos querendo fechar acima de 300 arrobas de média esse ano na fazenda. Vamos tirar uns 10% a mais do que no ano passado”, diz o gerente de produção Luis Antônio Huber.

Mas, por trás deste otimismo, também há motivos de atenção na propriedade. As doenças foliares, segundo o gerente de produção, avançam silenciosamente nas lavouras, sendo a ramulária uma das principais preocupações.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

“Quando ela entrou mais forte, que a gente não conhecia, a gente estimava perda de até 20%. Aprendizado que a gente já vem adotando é você fazer um monitoramento para poder identificar a doença na fase inicial da cultura para poder fazer aplicações mais assertivas”, frisa.

E a ramulária não é a única preocupação na lavoura de algodão. A mancha-alvo, também causada por um fungo, vem se espalhando em alguns talhões e exige um manejo rigoroso. Na fazenda, a doença considerada de difícil controle, tem elevado os custos e pode prejudicar a produtividade da pluma.

De acordo com Luis Antônio, a mancha-alvo se tornou um problema na propriedade nos últimos quatro anos. “Tira o sono. Dá preocupação e ela vai tendo em vários lugares na planta, nas brácteas e ela acaba derrubando a folha”.

Pesquisa acompanha de perto os desafios

A pesquisadora Mônica Muller, da Fundação MT, localizada em Rondonópolis, tem acompanhado de perto os desafios no controle das doenças foliares. Conforme ela, o uso isolado de defensivos, nem sempre tem garantido bons resultados, o que reforça a importância de estratégias mais amplas de manejo.

A especialista explica, em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, que as duas doenças são responsáveis, principalmente, pela desfolha na cultura do algodão. Já a mancha-alvo há o agravante de também ocorrer na cultura da soja.

Foto: Viviane Petroli/Canal Rural Mato Grosso

“Enquanto, a ramulária é uma doença específica da cultura do algodão hoje que temos no campo, não ocorrendo na cultura da soja, mas igualmente danosa aí na cultura do algodão”.

Ainda conforme Mônica, a ramulária causa um dano ainda maior do que a mancha-alvo no algodão.

“Hoje na cultura do algodão, apesar de estarmos vendo aí uma maior ocorrência da mancha-alvo nesses últimos anos, ela tem essa predominância em anos mais chuvosos, anos em que a cultura está mais fechada, que a gente não conseguiu fazer tão bem o regulador na cultura do algodão, a gente vê a mancha-alvo aí como protagonista. [Mas,] ainda assim a ramulária tem ocorrido, mesmo que em menor intensidade, mas com uma capacidade de dano aí é muito grande também na cultura do algodão”.

Doenças elevam custo de produção

O cenário em torno da crescente presença da ramulária e da mancha-alvo nas lavouras a cada safra tem colocado todo o setor produtivo não só de Mato Grosso em alerta, mas como de todo o país.

O diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Márcio Portocarrero, relata que o aumento da presença das duas doenças foliares têm levado o produtor a aumentar de “34% até 40% a participação desse problema no custo de produção. E isso representa uma perda de entorno de R$ 4 bilhões em cada safra”.

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Márcio Portocarrero frisa que tanto o produtor de algodão quanto o de soja não estão sozinhos diante das dificuldades com as duas doenças. Ele ressalta que “a ciência está a serviço da busca dessa solução”.

“Nós temos um sistema regulatório que envolve Ibama, Anvisa e Mapa, ultrapassado. Apesar de ter uma lei que foi aprovada o ano passado, ela ainda está em discussão, não está totalmente implementada, porque não foi regulamentada e isso dificulta”.

O diretor executivo da Abrapa pontua que uma molécula nova no Brasil leva 10 anos para entrar, enquanto que a mesma já está em uso na Argentina, no Paraguai e no restante do mundo.

“Não chegou aqui, porque não foi registrada. E com isso, somos obrigados a usar continuamente, praticamente, os mesmos produtos e isso possibilita que o fungo, tanto da mancha-alvo quanto da ramulária, adquira resistência e fortaleça”.

A necessidade de uma rotação de ingrediente ativo é uma das orientações dadas pela entidade, em uma tentativa de diminuir as chances de resistência, apesar de ser difícil diante da demora de liberação de novas moléculas.

“Procurar não aplicar mais de duas vezes o mesmo produto na mesma safra. Só que isso é praticamente impossível. Então, nós estamos numa linha de risco muito grande devido ao atraso e a dificuldade com a legislação brasileira em atrair para o Brasil e trazer investimentos ou moléculas novas que possam ser melhores para o meio ambiente, para a saúde em geral e mais eficientes, talvez até com menor custo propiciando menos perda na lavoura que já representa ganho”, diz Márcio Portocarrero.


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