BALANÇO E PROJEÇÕES

Ajustes na área e cautela nos investimentos devem marcar 2025 em Mato Grosso

Ano de 2024 em Mato Grosso foi marcado por prejuízos nas lavouras devido ao clima adverso e desvalorização dos grãos

Ajustes na área de cultivo das principais commodities e cautela nos investimentos da porteira para dentro. Essa será a estratégia dos agricultores mato-grossenses para tentar garantir receita frente aos custos na próxima temporada na expectativa de minimizar os prejuízos herdados do clima adverso da safra 2023/24 e a desvalorização dos grãos no estado.

A família Weber em Paranatinga conseguiu nesta temporada finalizar o plantio da soja após muito esforço e paciência. A irregularidade climática no início da safra 2024/25 acabou atrapalhando o desempenho das plantadeiras no campo este ano.

O produtor Idinei Weber classifica o ano de 2024 como “desafiador” e “bem crítico”. “A margem está bem apertada esse ano. Está sobrando muito pouquinho”, frisa ele ao Canal Rural Mato Grosso.

A desvalorização do grão frente aos custos de produção é outro fator de alerta na fazenda.

“O que subiu da soja e o que subiu dos insumos, dos custos, o que desceu da soja e o que desceu dos insumos estão desparelhados ainda. Então não desceu na mesma proporção. A conta está apertada”, reforça Robson Weber.

Cenário é observado em todo o Mato Grosso

A região nordeste do estado também enfrenta um cenário de incertezas no campo e a descapitalização herdada na última safra é considerada o grande desafio a ser superado para a permanência na atividade.

“O produtor está precisando de uma cheia. Ele vem com uma quebra na safra de 20% da produção e também uma quebra muito grande de 30% a 40% no preço. Isso impacta muito no bolso do produtor. Máquinas com preços altos e agora vai ter que pagar essa máquina com soja de R$ 100, R$ 110. Isso impacta muito”, comenta o presidente do Sindicato Rural de Querência, Osmar Frizzo.

O presidente do Sindicato de Querência destaca ainda que o arrendamento de áreas é outro ponto que está pesando no bolso dos produtores, uma vez que houve um salto de oito a dez sacas para 12, 14 sacas.

“Estamos vendo muitos RJs acontecendo e isso impacta muito. As exigências de crédito também começam a ser maiores em função das RJs. Os acessos a crédito estão muito mais difíceis e quando dá essa quebra nos preços isso vai impactar muito”, diz Osmar Frizzo.

Safra 2025/26 ainda é uma incógnita em Mato Grosso

Para o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wisch, a safra 2025/26 em Mato Grosso ainda é uma verdadeira incógnita em decorrência da descapitalização dos produtores.

“Tem produtores que conseguiram esse ano plantar ainda. Agora, 2025/26 é uma incógnita muito grande. Uma interrogação muito grande, justamente por essa descapitalização do produtor. Pode ser, em questão financeira, um dos anos mais críticos que a gente possa enfrentar”, diz Alex Wisch.

Conforme o agricultor Arlindo Cancian, o próximo ano deverá “ser um ano de ajustes e de botar mais o pé no chão ainda”.

“Fazer o dever de casa, não fazer loucura, não querer aumentar muito as lavouras. A cautela é a palavra-chave. Muita! Pensar muito em fazer qualquer investimento. O produtor tem que plantar, porque não tem outra alternativa e nós esperamos que isso mude”.

É preciso fazer margem de rentabilidade

A necessidade de fazer margem de rentabilidade é um ponto destacado pelo presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Geraldo Delai. Em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, ele frisa que “essa margem vai fazer com que o produtor continue ou saia do mercado”.

“Os nossos custos estão bastante altos, ainda. Nós não temos preços de soja que sejam compensadores e tem mais um fator relevante. Na região de Água Boa temos 70% que são arrendatários e eles pagam renda. E, isso aí é preocupante para a região, porque se ele paga renda e ainda tem preço baixo, o recurso que sobra para ele é muito pouco. Por isso que está havendo muitas RJs e a gente acredita que no ano que vem, infelizmente, nós teremos mais RJs. A palavra é cautela e trabalhar com o que tem e produzir o máximo possível”.

Falta seriedade do governo, afirma setor produtivo

Ações efetivas do governo federal em apoio ao agronegócio, que possam favorecer investimentos para dar mais viabilidade na produção agrícola da porteira para dentro, é outra reivindicação do setor.

“Os juros estão com taxas muito altas. O dinheiro que o governo promete, que é subsidiado, não existe no mercado. O produtor tem que ir ao mercado livre pegar o dinheiro que consegue. Então, realmente, não tem esse apoio do governo que ele fala”, diz Osmar Frizzo.

O presidente do Sindicato Rural de Querência ressalta, em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, que este foi um ano em que se observou redução na aplicação de adubos nas lavouras e que “os químicos não vão ser usados na mesma quantidade. Vai ter um regramento em função de diminuir o custo. A indústria de máquinas diminuiu bem as vendas e a comercialização de insumos também diminuiu. Então, realmente, a cautela do produtor está tomando [conta] e vai ter que continuar até recuperar”.

Na avaliação do agricultor Osvaldo Pasqualotto “os produtores estão muito desassistidos de financiamentos, BNDES para armazém, para maquinário. O próprio custeio das safras, o governo federal anda tirando o pé. Eles anunciam valores astronômicos todos os anos, mas esse dinheiro não chega no bolso do produtor e ele tem que ir ao mercado. E a gente sabe que no mercado é um dinheiro caro, um dinheiro difícil e eles estão perdendo acesso às linhas oficiais de crédito. Acho que está faltando seriedade ao governo em fazer o que ele está prometendo”.


Clique aqui, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real.