PREVENÇÃO

Plantas daninhas: plataforma mostra resistência a herbicidas; acesse dados online

Ferramenta gratuita desenvolvida em conjunto entre Embrapa e Bayer ajuda produtor a planejar melhor estratégias de controle; pesquisa nacional acaba de incluir resultados referentes a Mato Grosso

Pesquisadores da Embrapa e da Bayer estão monitorando a resistência de plantas daninhas a herbicidas em Mato Grosso. O trabalho faz parte de um esforço nacional, que conta com a participação de especialistas em todo o país, e os resultados estão disponíveis em uma plataforma online de acesso aberto.

De acordo com as informações da Embrapa, na plataforma é possível verificar os locais onde foram coletadas sementes de biótipos com suspeita de resistência às espécies de plantas daninhas envolvidas e a qual herbicida e mecanismo de ação elas são resistentes.

“A ideia é que o site sirva de alerta para os produtores. Ao verem que há resistência em sua região, eles podem planejar as estratégias de controle, seja com a rotação de moléculas e de mecanismos de ação, com uso de herbicidas pré-emergentes, por exemplo, ou ainda com o manejo cultural usando plantas de cobertura”, afirma a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril Fernanda Ikeda.

O trabalho

A identificação de populações de daninhas resistentes tem início com coletas em campo, em expedições realizadas às principais áreas agrícolas do estado, onde são coletadas sementes de plantas-escape com suspeita de resistência. Também pode haver o envio de sementes pelos produtores e consultores que encontrarem populações suspeitas de resistência.

Coletadas ou recebidas, as sementes são semeadas em vasos em casas de vegetação. As plantas passam por um processo inicial de avaliação, no qual são expostas às doses recomendadas dos herbicidas selecionados para os testes de cada espécie na fase e condições ideais de aplicação. Aqueles indivíduos que sobrevivem ao controle são classificados previamente como resistentes. São esses dados que são lançados na plataforma.

“Nem todas as plantas que sobrevivem em áreas de lavoura são resistentes. Muitas vezes a sobrevivência decorre de fatores diversos como aplicação em dose menor do que a recomendada, aplicação com a planta estressada ou em estádio avançado, mistura de produtos, falta de ajuste no pulverizador, vento durante a aplicação, entre outros. Por isso, muitas das amostras coletadas acabam se mostrando suscetíveis nesse primeiro teste”, explica o pesquisador da Embrapa Algodão Sidnei Cavalieri.

Para se chegar ao diagnóstico definitivo de resistência é preciso avaliar se a característica de resistência é hereditária, ou seja, se ela passa para as gerações seguintes. Além disso, pode haver diferentes níveis de resistência, que são identificados em estudos de curva dose-resposta com uso de doses crescentes do herbicida e com repetições.

Os ensaios de curva dose-resposta também estão sendo feitos na Embrapa Agrossilvipastoril. Como são mais demorados, optou-se em um primeiro momento por lançar a plataforma com os dados da primeira avaliação em casa de vegetação.

“Este já é um importante indicativo para o produtor. Ele consegue ver como está o cenário na região dele, se há pressão de seleção de resistência para algum produto ou mecanismo de ação e pode usar essas informações na tomada de decisão”, diz Cavalieri.

A expectativa é que a plataforma seja atualizada aos poucos com novas amostras coletadas e testadas. Além disso, futuramente também devem ser contempladas informações com a comprovação de resistência.

Resultados em Mato Grosso

As coletas de sementes de plantas daninhas em Mato Grosso se concentraram em 2018, 2019 e 2021. Três espécies de maior impacto econômico no estado foram priorizadas: capim pé-de-galinha (Eleusine indica), capim-amargoso (Digitaria insularis) e buva (Conyza spp.).

Até o momento, foram avaliados 196 biótipos de capim pé-de-galinha, sendo 24% classificados como suscetíveis a todos os herbicidas, 54% como resistentes a um ou mais inibidores da ACCase (clethodim, fenoxaprop-p-ethyl e haloxyfop-p-methyl), 5% resistentes ao glyphosate (inibidor da EPSPs) e cerca de 17% com resistência a um ou mais inibidores da ACCase e ao glyphosate.

“Vimos que 70% das amostras tiveram algum indicativo de resistência com herbicidas do grupo químico dos ariloxifenoxipropionatos (FOPs), enquanto apenas 13% tiveram resistência ao clethodim apenas ou combinado com outro(s) FOP(s) e/ou glyphosate”, destaca Ikeda.

Para o capim-amargoso foram avaliados 116 biótipos. Cerca de 69% foram classificados como suscetíveis a todos os herbicidas, 22% resistentes ao glyphosate e 8% com resistência a um ou mais inibidores da ACCase (a maior parte classificada como resistente ao haloxyfop) e ao glyphosate.

A buva, que assim como o capim-amargoso tem dispersão pelo vento, contou com resultado de apenas 19 biótipos. Número maior foi avaliado, mas a falta de germinação de sementes limitou os dados. Dos biótipos analisados, 21% foram suscetíveis a todos os herbicidas testados (2,4-D, chlorimuron-ethyl, diquat, amônio-glufosinato, glyphosate e saflufenacil), 42% resistentes ao glyphosate e 37% com resistência ao chlorimuron e um ou dois dos herbicidas avaliados (2,4-D, glyphosate, glufosinato de amônio). Não foi encontrado nenhum biótipo com resistência a diquat e saflufenacil.

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